
Por Joaquim Armindo
O dicionário apresenta défice como a “diferença entre o que foi previsto para atender a certa demanda e o que existe na realidade”, e “demanda” como “uma manifestação de um desejo, pedido ou exigência, necessidade premente”. É comum hoje falar-se em défice para as contas públicas, ou seja, a diferença entre aquilo que o país produz e as despesas, incluindo nesta os juros de empréstimos. Este défice tem sido em demasia propalado como eficaz para a nossa vida comum. É necessário dizer que entre o produto do nosso trabalho, enquanto nação, e as despesas inerentes não existe défice, mas um superavit, temos mais receitas do que despesas, dito em linguagem corrente. Só que adicionando os juros pagos ao exterior e pagamento da dívida, dá o tal défice de que se fala, e que ao que parece será nulo em 2019.
Existem défices, pois existem e muitos, de acordo com a sua definição. Existe um défice substantivo de casas para os sem-abrigo. Existe um défice tremendo no salário mínimo nacional, que não dá para viver. Existe um défice na educação, o ensino superior não é para todos, nem o secundário. Existe um défice de camas nos hospitais. Défice de cuidados primários e continuados. Existe um défice de trabalhadores preparados e qualificados. Existe um défice no bolso dos portugueses ao fim de cada mês. Existe um défice na investigação e inovação. Existe um défice na cultura para todos. Existe um défice económico, pois existe. Existe um défice ambiental, pois existe. Existe um défice social, pois existe. Existe um défice cultural, pois existe.
Existem outros défices importantíssimos, como o do pão e da água para todos, do carinho para os mais velhos, de países para os migrantes, de justiça e de paz. Contudo existe um que está do lado dos crentes, que o défice do espiritual. Este diz respeito só à Igreja – como já afirmou D. Manuel Linda -, a nós que a formamos. O espiritual é procurado por todo o mundo. Os povos estão famintos. As pessoas procuram-no nas mais diversas formas propostas. Este défice é-nos reportado. Seremos capazes de propor Jesus, Ele que, em si, é Espiritual? Com isso não resolveríamos outros tantos défices?