
“A Igreja não pode esquecer que foi por meio desse povo […] que ela recebeu a revelação do Antigo Testamento e se alimenta da raiz da oliveira mansa na qual foram enxertados os ramos da oliveira brava, os gentios”, é assim que a Declaração sobre a Igreja e as religiões não-cristãs apresenta a nossa relação, quase genética, com o judaísmo (NE 4). Porque esses “gentios” éramos nós. Ninguém se esqueça, portanto, que é pela seiva fecunda do antigo judaísmo que nós recebemos o Salvador e a sua proposta de universal encontro com o Pai.
Pode haver maior título de ligação entre estes dois povos da «aliança»? Creio que não. Noé, Abraão, Moisés… pertencem tanto ao nosso «património» como ao dos judeus. Só que a eles pertenceu primeiro. Foram, de facto, “oliveira mansa”, a partir de cuja raiz muitos se alimentaram.
Curiosamente, a história nem sempre o reconheceu. E houve mal-entendidos. E violência de parte a parte. E expulsões. E Shoah. Tristemente. Lamentavelmente.
Mas tal não voltará a acontecer. Quer porque a sociedade civil se «humanizou», quer porque os dirigentes religiosos das duas comunidades se comprometem a tudo fazer para elevar o nível das relações, favorecer o conhecimento mútuo e entrar num tal clima de confiança que permita colaboração recíproca.
O recente “Protocolo de amizade e cooperação” que os dirigentes da Diocese e da Comunidade Judaica do Porto assinaram é prova disso mesmo: corte com o passado de incompreensões e certeza de um futuro feito de mãos dadas. Por isso, tem razão o Presidente da Comunidade Judaica ao afirmar que, desde há quinhentos anos, esse foi o feito histórico mais significativo, no Porto, na relação entre cristãos e judeus.
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