Iemen: o problema das alianças

Apesar da sua população de cerca de trinta milhões de habitantes e da sua enorme superfície, o Iémen é geralmente considerado como o mais pobre dos estados árabes da região do Golfo Pérsico. Certamente por isso, e por razões históricas específicas, trata-se de um país nunca motivou um interesse muito particular e permanente da opinião pública internacional, embora dizer “nunca” seja certamente um exagero, porque nos últimos tempos, esse interesse tem crescido visivelmente.

O pretexto para esta súbita mudança de comportamento por parte da Comunicação Social foi uma tragédia que vitimou dezenas de crianças que viajavam num autocarro escolar que parou junto de um mercado onde os jovens pararam para se abastecer de água. Ora aconteceu que, nesse espaço de tempo, o autocarro foi bombardeado por um ou mais aviões da coligação militar que apoia o governo de Riad numa guerra civil que já fez milhares de vítimas.

As forças de oposição ao regime agrupam-se à volta dos “huties”, um movimento de cariz regional e étnico, que tem como característica identificadora a sua ligação ao xiismo, um ramo do islamismo que se opõe ao sunismo, claramente maioritário na península arábica.

O ataque que vitimou aqueles estudantes inocentes provocou reacções indignadas em muitos países, mas só foi reconhecido e lamentado pelo governo de Riad quase uma semana depois da tragédia, o que prejudicou seriamente a imagem da dinastia dos saud e de todos os seus aliados na região. As razões invocadas pelo governo para justificar o ataque não convenceram ninguém, nem vieram suavizar as críticas ao governo de Riad.

A guerra que se trava na península arábica tem hoje todas as condições para ultrapassar o carácter local ou regional com que foi inicialmente interpretada. Tudo por via do impacto das alianças que entretanto se foram tecendo, e que ultrapassam largamente as suas fronteiras.

É certo que os huties constituem uma minoria, mas uma minoria significativa de cerca quatro milhões de fiéis que reivindicam o estatuto de verdadeiros islamitas, mas na sua luta contra o sunismo são apoiados abertamente pelo Irão que tem em Moscovo um aliado poderoso. Por seu lado, o governo saudita conseguiu garantir o apoio político da maioria dos estados do Golfo e conta sempre com a ajuda militar dos norte americanos. Esta é pois uma crise local a que que o sistema de alianças confere uma dimensão muito maior e muito mais grave.