Recordando as palavras do Papa na Irlanda por ocasião do IX Encontro Mundial das Famílias

Por Rui Saraiva

Papa sobre os abusos sexuais a menores: “crimes repugnantes”

No seu discurso às autoridades da Irlanda, na viagem papal por ocasião do IX Encontro Mundial das Famílias que decorreu em Dublin, Francisco referiu-se aos abusos sexuais a menores perpetrados por membros do clero como sendo “crimes repugnantes”.

O Santo Padre foi recebido pelo primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar no castelo de Dublin e reafirmou a sua indignação sobre as situações de abusos sexuais a menores naquele país:

“Não posso deixar de reconhecer o grave escândalo causado na Irlanda pelos abusos sobre menores por parte de membros da Igreja encarregados de os proteger e educar. A falência das autoridades eclesiásticas – bispos, superiores religiosos, sacerdotes e outros – ao enfrentarem adequadamente estes crimes repugnantes suscitou, justamente, indignação e continua a ser causa de sofrimento e vergonha para a comunidade católica. Eu próprio partilho estes sentimentos” – afirmou o Papa.

Papa às famílias irlandesas: não à cultura do provisório

No seu encontro com as famílias irlandesas na Pró-Catedral de Santa Maria, Francisco exortou os casais para a revolução do amor e da ternura sublinhando a importância da oração e do encontro de gerações e afirmando que o matrimónio é uma vocação para toda a vida.

O Papa foi acolhido por inúmeros casais alguns já avós, outros recém-casados e outros ainda noivos que saudaram e colocaram questões ao Santo Padre. A todos o Papa ouviu com atenção tendo depois proferido um discurso no qual procurou responder a cada uma das inquietações apresentadas.

Francisco alertou para os perigos da “cultura do provisório e do efémero” e de um amor que não seja para toda a vida. “Entre todas as formas da fecundidade humana, o matrimónio é único” – lembrou o Papa salientando que “o sacramento do matrimónio, participa de modo especial no mistério do amor eterno de Deus” – afirmou.

Destaque especial para uma história pessoal que o Papa contou sublinhando que tudo começa em casa, no lar, na “igreja doméstica”. O Santo Padre recordou que quando tinha cinco anos viu o pai e a mãe que se beijavam. E disse aos casais irlandeses: “que os vossos filhos vos vejam beijar e acariciar e aprendam o dialeto do amor e da fé”.

O Santo Padre realçou ainda a importância da oração em família e a vivência da solidariedade com aqueles que sofrem. “O mundo diz-nos para sermos fortes e independentes, preocupando-nos pouco com aqueles que estão sozinhos ou tristes, rejeitados ou doentes” – disse o Papa afirmando que “o nosso mundo precisa duma revolução de amor! Que esta revolução comece por vós e pelas vossas famílias” – afirmou.

“Os vossos filhos aprenderão de vós a viver como cristãos; sereis os seus primeiros mestres na fé” – afirmou ainda o Santo Padre que frisou que “não poderá haver uma revolução de amor, sem a revolução da ternura!“

No final do seu discurso o Papa realçou a importância do diálogo e do convívio entre gerações: “as crianças não crescem no amor se não aprendem a comunicar com os seus avós” – lembrou Francisco.

Papa na Festa das Famílias: “sois a esperança da Igreja e do mundo”

Na Festa das Famílias, no Croke Park Stadium em Dublin na Irlanda, no IX Encontro Mundial das Famílias, Francisco recordou as palavras-chave para a paz na família: desculpa, por favor e obrigado. Sublinhou o valor do perdão e a importância dos avós.

O Santo Padre afirmou no seu discurso que a família é a esperança da Igreja e do mundo: “vós, famílias, sois a esperança da Igreja e do mundo” – disse.

Foram vários e intensos os testemunhos de famílias que apresentaram experiências de vida matrimonial e familiar, vividas em várias partes do mundo. O Papa referiu-se a estes testemunhos proferindo um discurso continuamente aplaudido pela multidão presente no estádio.

Francisco considerou a Festa das Famílias como uma verdadeira “celebração familiar de ação de graças a Deus pelo que somos” – disse o Papa – “uma única família em Cristo, espalhada pela terra”.

O Santo Padre defendeu o Batismo das crianças em tenra idade para que façam parte, desde pequeninas, da grande família de Deus. O Papa salientou que o “Evangelho da família é, verdadeiramente, alegria para o mundo”, pois nas “nossas famílias, sempre se pode encontrar Jesus” que “lá habita, em simplicidade e pobreza, como fez na casa da Sagrada Família de Nazaré” – assinalou.

Todos os membros da família são chamados à realização do amor com gestos simples e humildes, em particular, na vivência da escuta, da compreensão e do perdão. Francisco recordou as três palavras-chave para a paz na família que permitem superar o orgulho e o isolamento: “… precisamos de aprender três palavras: «desculpa», «por favor» e «obrigado».”

O Papa recordou que, antes de ir dormir, é importante fazer a paz na vida de casal. “Perdoar significa doar algo de si mesmo. Jesus perdoa-nos sempre. Com a força do seu perdão, também nós podemos perdoar aos outros, se o quisermos de verdade” – disse ainda o Papa salientando que os filhos aprendem a perdoar quando veem os seus pais perdoarem-se entre si.

“Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, criou a humanidade à sua imagem para fazê-la participante do seu amor, para que fosse uma família de famílias e gozasse daquela paz que só Ele pode dar. Com o vosso testemunho do Evangelho, podeis ajudar Deus a realizar o seu sonho. Podeis contribuir para aproximar todos os filhos de Deus, para que cresçam na unidade e aprendam o que significa, para o mundo inteiro, viver em paz como uma grande família” – declarou o Papa no final da sua intervenção, sublinhando que fez entregar a todas as famílias, ali presentes, uma cópia da sua Exortação Apostólica “A alegria do amor” para que seja uma espécie de guia para a vivência do Evangelho da Família.