
Leitura do Livro de Isaías Is 50, 5-9a
«Apresentei as costas àqueles que me batiam»
Salmo Responsorial Salmo 114 (116)
Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor.
Leitura da Epístola São Tiago Tg 2, 14-18
«A fé sem obras está morta»
Aclamação ao Evangelho Gal 6, 14
Aleluia.
Toda a minha glória está na cruz do Senhor,
por quem o mundo está crucificado para mim
e eu para o mundo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 8, 27-35
Filho do homem tem de sofrer muito»
«Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me».
Viver a Palavra
A liturgia deste 24.º Domingo do Tempo Comum desinstala-nos e coloca-nos a caminho. Recordando-nos a nossa condição de peregrinos, quer ajudar-nos a construir a nossa identidade de cristãos a partir da descoberta da verdadeira identidade de Jesus: quem é Jesus para mim? Quem sou eu a partir de Jesus?
Jesus caminha da Galileia a Jerusalém: do lugar do amor que se fez chamamento e seduziu o coração dos discípulos convocando-os para a missão até à Cruz, ao lugar da paixão, lugar da entrega generosa até ao fim. Neste percurso da Galileia a Jerusalém, passam por Cesareia de Filipe, cidade junto a uma das nascentes do Rio Jordão, marcada pelo paganismo. Mas é precisamente aí, em terreno hostil e pagão, que Jesus pergunta acerca da Sua identidade, para que os discípulos compreendam que a Boa Nova que veio anunciar está revestida da nova lógica do amor e da entrega, bem diferente dos líderes e reis deste mundo.
«Quem dizem os homens que Eu sou?». Não é mera curiosidade de Jesus, nem tão pouco sondagem da opinião pública. Jesus interroga os Seus discípulos e fá-lo pedagogicamente, para introduzir a pergunta mais difícil: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Afinal, vós que andais comigo, que comigo partilhais a vida, que deixaste tudo para me seguir, quem sou eu para vós?
Hoje, podemos imaginar aquele olhar de Jesus fixo em nós e sentir ecoar no nosso coração esta pergunta difícil e exigente, à qual é tentador responder com uma frase feita ou alguma frase bonita, porventura decorada. Mas, hoje, queremos como Pedro responder com o coração e a vida, dizer a Jesus que Ele é Aquele que irrompe na nossa vida e oferece um sentido absolutamente novo que brota da experiência de encontro com Ele.
Reconhecer a verdadeira identidade de Jesus, coloca-nos a caminho: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me». Na verdade, começamos a ser discípulos quando entramos nesta nova lógica de ser e de estar, neste novo modo de servir e amar. É a lógica daquele que sabe que a vida é tanto mais nossa, quanto mais for dos irmãos. Que a vida é tanto mais ganha, quanto mais for entregue. Que a vida é verdadeiramente vida, quando entregue sem medida. Esta é a estrada nova que Jesus abre e que nos convida a percorrer, não sem Ele, nem longe Dele mas atrás Dele. Ele abrirá o caminho, Ele iluminará os nossos passos e será o garante de que estamos a percorrer o caminho certo.
Jesus recorda-nos que um Cristianismo sem Cruz é um Cristianismo sem Páscoa e sem Luz e que a Cruz não é mais o símbolo da morte e da condenação. Em Jesus, a Cruz é árvore da vida, porta aberta para a eternidade, pois sinal e expressão máxima do amor e da bondade de Deus que se dá sem medida e nos convoca para a Sua missão, para também nós sermos entrega total e disponível.
A descoberta da verdadeira identidade de Jesus conduz-nos à pergunta decisiva: «quem sou eu a partir de Jesus?» e desafia-nos como S. Tiago a anunciar ao mundo o rosto de Jesus pelas obras de amor e misericórdia que colocamos nos nossos gestos.
Homiliário patrístico
São Cesário de Arles (séc. VI)
Sermão 159,1.4-6[9]
Se alguém me quer seguir, que carregue sua cruz. E para onde devemos seguir a Cristo, senão para onde Cristo está? Sabemos, de fato, que ressuscitou, que subiu ao céu: para lá devemos segui-lo. (…) Queres seguir a Cristo? Sê humilde como ele o foi: não desprezes a sua humildade, se desejas elevar-te à sua sublimidade. Por isso, o nosso Senhor e Salvador não se satisfez em dizer: que se negue a si mesmo, mas acrescentou: que carregue a sua cruz e me siga. O que significa: que carregue a sua cruz? Suporte qualquer desgosto e assim me siga. Bastará que me siga imitando a minha vida e cumprindo meus preceitos.
Assim, se queremos cumprir o que disse o Senhor – quem quiser vir após mim, carregue a sua cruz e siga-me – esforcemo-nos por colocar em prática, com a ajuda de Deus, o que diz o apóstolo: tendo o que comer e o que vestir, demo-nos por satisfeitos, não nos ocorra que desejando os bens terrenos além da estrita necessidade, busquemos enriquecer-nos, nos embaracemos em mil tentações, criemos para nós necessidades absurdas e nocivas, que afundam os homens na perdição e na ruína. Que o Senhor se digne ser protecção em semelhante tentação, ele que com o Pai e o Espírito Santo reina pelos séculos dos séculos. Amém.
Sugestões litúrgicas
1. Estamos no início do ano pastoral, no retomar das actividades escolares e para muitos no retomar das actividades profissionais após o tempo de descanso estival. Neste contexto, partindo da Liturgia da Palavra, pode apontar-se o encontro único e irrepetível com Jesus como lugar de testemunho e horizonte de sentido para os nossos afazeres quotidianos. O caminho exigente da cruz proposto por Jesus dá sentido aos desafios que surgem no caminho, pois a Sua Cruz é horizonte de ressurreição e de vida.
2. Para os leitores: a proclamação das leituras deve ter em conta as diversas perguntas que surgem nos dois textos. Na primeira leitura, inserida nos chamados “Cânticos do Servo de Javé”, é necessário ter em atenção as respostas que intercalam as perguntas, cuidando a articulação entre as frases interrogativas e declarativas, sublinhando a força das palavras finais que são como uma profissão de fé: «O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?». Na segunda leitura, entre as várias perguntas, ter uma especial atenção na frase interrogativa mais longa, que contém no seu interior texto em discurso directo. A proclamação desta leitura deve ainda considerar a última frase – «Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé» como conclusão de toda a leitura e como mensagem fundamental que S. Tiago quer transmitir.
Sugestões de cânticos
Entrada: Dai a paz, Senhor, M. Faria NCT 214; F. Valente BML 127 Salmo Responsorial: Caminharei na terra dos vivos, M. Luís SR (B) 242 Aclamação ao Evangelho: Toda a minha glória está na cruz do Senhor, M. Faria, NRMS 16; C. Silva XVI ENPL 1985 Ofertório: A Vós, Deus e Senhor, D. Julien NCT 242 Comunhão: Senhor, eu creio que sois Cristo, NRMS 67 Final: Louvemos o Senhor, NCT 285