Falar com coragem

Por Joaquim Armindo

“Falar com coragem. Sem vergonha” – foi assim que o papa Francisco falou às centenas de jovens da reunião pré-sinodal, só de jovens, para preparação do Sínodo sobre a juventude a realizar este ano. Um Sínodo é uma reunião muito importante, porque coloca os bispos delegados do mundo inteiro a analisar as questões. Este facto traduz mudanças nas posições “dogmáticas” que até aqui vinham a ser seguidas. Mais: a audição através de questionários em todo o mundo e a todos os jovens e a realização da reunião pré-sinodal só com jovens, dão alento a todos os que procuram uma igreja mais próxima dos tempos e das pessoas. Certamente que será destas reuniões que o elo da unidade far-se-á sentir, ouvindo, escutando os anseios e os problemas de hoje. Até porque os jovens não são o futuro, os jovens são o hoje, este é que é móvel. Ser cristã e cristão pressupõe uma escuta ativa, que não adie, mas enfrente todas as questões, por mais dolorosas que possam ser. Essa escuta espera-se que brote do Sínodo, mais que carreirismos legislativos que usurpam o viver e o sentir das mulheres e dos homens do nosso tempo.

Falar com coragem é atender aos sinais dos tempos e compreender neles o sentido do Evangelho de Jesus. Ele é misericórdia, e desta fica arredada a lei. Falar com coragem é colocar na mesa, tantas questões que a lei defende, mas está longe do caminho de Jesus. Falar com coragem é também denunciar, uma denúncia dos preceitos por nós inventados, que nunca tiveram lugar.

Falar com coragem é não ter medo de ficar nas prateleiras em que muitos são colocados, por terem falado. Falar com coragem é romper com o cerco não só da “economia que mata”, mas também da “religião que mata”. Falar com coragem é não ser indiferente, mesmo que isso nos coloque “mal vistos”, por nos termos “metido nisso”. Falar com coragem é este anúncio de Jesus, que fala com a cananeia, em final de uma manhã, mesmo que isso nos abastarde.

Falar sem vergonha, é ser como Jesus, um “desavergonhado”. Tudo tem o seu custo, e isso paga-se tantas vezes muito caro. Mas falar sem vergonha é, sobretudo, anunciar este Jesus que morreu e ressuscitou, por todos, para todos e com todos.