Paulo VI e os Acólitos

Por S.D.L.

Em 30 de março de 1967 – quinta-feira dentro da oitava da Páscoa –, Paulo VI recebeu uma peregrinação europeia de «iuvenes ministrantes» – jovens acólitos ministrantes. Dirigiu-lhes um discurso em língua francesa e, no final, falou em italiano e alemão aos peregrinos dessas línguas.

Paulo VI faz a mistagogia da veste do acólito ministrante, focando-se, primariamente, na sua cor: o branco. O ponto de partida é a emoção estética do espetáculo de alvura de tantas crianças, adolescentes e jovens, todos com as suas «belas alvas brancas» que alegram os olhos e o coração. Diga-se, de passagem, que este contributo para a beleza da celebração, para a arte de celebrar, está longe de ser secundário ou de escassa importância. Hoje como então.

Da estética, Paulo VI passa à ética e à espiritualidade: a alvura das vestes é reflexo da candura das almas que, graças ao contacto com o Altar sagrado, crescem na fé, na piedade, na pureza e em todas as virtudes que atraem a complacência divina.

Por fim, já em italiano, Paulo VI dá um passo ulterior na mistagogia da veste elevando-a a um patamar sacramental: os acólitos recordam as cândidas fileiras dos neófitos ou seja – sublinhamos – a sua veste é memória viva do Batismo e não já imitação ou suplência do traje clerical. «Também vós, como neófitos cheios de fervor e de alegria, sois a honra e o orgulho da Igreja à qual dais o contributo da vossa idade no serviço pontual, ordenado, preciso, oferecido ao Altar; pensamos que também vós sois como um cântico aleluiático que ressoa na Igreja e para a Igreja para edificação do povo fiel».

Paulo VI alerta para que não se minimize o serviço dos «jovens ministrantes»: «Por vezes podereis ter a impressão de que a liturgia é feita de coisas bem pequenas: atitudes do corpo, genuflexões, inclinações de cabeça, manejo do turíbulo, do missal, das galhetas… É então que vos deveis recordar da palavra de Cristo no Evangelho: “Quem é fiel nas coisas pequenas também o será nas grandes” (Lc 16, 10). Aliás nada é pequeno na Santa Liturgia, quando se pensa na grandeza daquele ao qual ela se dirige». «Sede exemplarmente fiéis no desempenho das vossas funções sagradas. Ponde nisso toda a vossa aplicação, todo o vosso coração, todo o vosso amor».

Mais interessante ainda: Paulo VI vê na participação consciente e generosa dos acólitos na Liturgia – coração, cume e fonte da vida cristã (cf. SC 10) – uma concretização do ideal do leigo cristão, tal como o II Concílio do Vaticano o acabara de propor: «vós já realizais de forma exemplar aquilo que o Concílio claramente propôs como insubstituível fundamento e condição indispensável do apostolado dos leigos e da sua fecundidade, ou seja, aquela “vida de íntima união com Cristo, que se alimenta na Igreja com as ajudas espirituais comuns a todos os fiéis, sobretudo com a participação ativa na Sagrada Liturgia” (Decr. Apostolicam Actuositatem, 4). Vós participais ativamente – e como! – na Liturgia da Igreja, viveis o seu espírito e conheceis as suas cerimónias com o vosso comportamento recolhido e harmonioso. Pois bem, diletos filhos, sabei que por isso estais inseridos no centro da vida da Igreja e daqui podereis haurir o alimento constante para o apostolado que agora desempenhais e que desempenhareis depois, qualquer que seja a profissão e o trabalho a que vos chamará o Senhor».

Nota importante deste discurso é a urgência e premência vocacional. O Papa Montini sublinha a intimidade com Cristo que o serviço do altar supõe e alimenta. E congratula-se ao constatar como o Senhor chamava muitos a uma intimidade ainda maior. Por isso exortava os acólitos ministrantes não só à fidelidade no desempenho das funções litúrgicas que lhes eram cometidas, mas também à disponibilidade para ouvir e corresponder ao chamamento de Cristo. Essa era uma realidade esperançosa e, ao mesmo tempo, desmentido factual de que a juventude se recusasse a escutar o apelo divino e tivesse perdido o gosto de Deus. «Estai atentos para que não se perca e fique sem eco a voz que chama. E rezai todos com fervor para que Cristo escolha para si, de entre as vossas fileiras, numerosos continuadores do seu sacerdócio».