Arménia: duas razões para evocar a sua história

Notícias recentes deram conta de algumas tensões políticas na Arménia, uma ex-república da antiga União Soviética que, mesmo depois de esta ter desaparecido para dar lugar à actual Federação Russa, não chegou a cortar de todo os laços culturais e políticos que a ligavam a Moscovo.

Por António José da Silva

Essas tensões internas não são suficientes para originar preocupações graves naquela região do mundo, mas chegaram para merecer algum interesse por parte os Media, e para trazer de novo a Arménia para o mapa da actualidade internacional.

De qualquer modo, haveria sempre duas ou três razões para evocar a história deste pequeno país de pouco mais de três milhões de habitantes, situado na Transcaucásia. A primeira foi a passagem do centenário da primeira guerra mundial – 1914/1918 – que não se pode lembrar sem fazer memória daquilo que a maioria dos historiadores classifica como o genocídio arménio, alegadamente cometido por topas do exército turco que combatiam ao lado dos alemães.

Foi um genocídio que se terá saldado em mais de um milhão de mortos, mas cuja responsabilidade histórica os actuais governantes de Ankara fazem questão negar veementemente. Tão veementemente que aceitam mesmo o “castigo” de não poderem fazer parte da União Europeia, cujos membros, e sobretudo a França, exigem à Turquia a assunção dessa responsabilidade.

Depois, há uma segunda razão para evocar, neste espaço, a história da Arménia: é o facto desta região se ter constituído no primeiro restado cristão do mundo. No ano de 301, ainda antes da conversão de Constantino, o povo que habitava aquela região do Império Romano aderiu ao cristianismo, na sequência, conforme reza a História, do trabalho missionário dos apóstolos S. Judas Tadeu e S Bartolomeu, razão por que o nome oficial da sua Igreja é o de Igreja Apostólica Arménia. Ainda hoje, tantos séculos volvidos, mais de 90% dos arménios continuam a afirmar a sua identidade cristã, pese embora o facto de estar rodeada países muçulmanos.

Com um desses países, o Azerbaijão, a Arménia esteve em guerra durante os anos noventa do século passado, por causa da de um território que se situa no Azerbaijão, mas que é habitado por uma larga maioria de arménios: falamos de Ngorno Karabak.

É certo que a comunidade internacional conseguiu estabelecer aí um cessar-fogo que ainda se mantém, mas o problema original nunca foi resolvido. Há pois quem tema que um dia se volte a falar da Arménia pelos piores motivos…