João XXIII e os Acólitos Ministrantes

Por S.D.L.

No dia 1 de agosto de 1962, João XXIII acolheu na Basílica de São Pedro a Peregrinação Internacional dos «Ministrantes do Altar». No discurso dessa audiência, o bom Papa João deixa perceber a sua «comovida complacência», alegria e gratidão a Deus, perante o espetáculo de tão numerosa assembleia, vestida de alvura, de radiante juventude, rica de fé nos valores sobrenaturais.

Quem eram os acólitos ministrantes de então? Eram, essencialmente, crianças. Mas começava a notar-se o número crescente de adolescentes e jovens «na flor da idade juvenil». Em cada dia, eles prestavam o seu precioso serviço ao lado dos sacerdotes na celebração dos divinos Mistérios. Na época, esta peregrinação mobilizava, sobretudo, «ministrantes» alemães já organizados com associações e federações.

O Santo Padre aponta-lhes como figura bíblica de referência o jovem Samuel que, revestido com a sua túnica de linho, prestava o seu serviço no templo do Senhor (1 Sam 2, 18) no meio das fileiras dos levitas. Esse exemplo fascinante não deixou de se repetir para edificação do povo de Deus. Citando São Justino, S. Gregório Magno e a antiga tradição monástica, João XXIII refere a prática da Igreja primitiva que admitia os jovens como leitores, cantores e ministrantes. Em tempos mais recentes, recorda-se o impulso dado por São Pio X e prosseguido por Pio XII «à participação ativa dos leigos nos sagrados Mistérios».

Aos «jovens ministrantes», o Papa faz uma recomendação: «Não vos contenteis com realizar um ordenado serviço de cerimónias e um acurado canto litúrgico; sede os preciosos colaboradores do Clero na obra de difusão e de educação do espírito litúrgico; sede nas vossas paróquias “a primeira escola de perfeita educação religiosa e civil». Porque a «Escola do serviço divino é antes de mais um tratado de boa criação e um treino para o bem estar, bem calar e bem rezar diante de Deus e diante dos homens». A exemplo dos jovens leitores do séc. III que São Cipriano de Cartago escolhera de entre corajosos confessores da fé, o serviço dos acólitos ministrantes deve considerar-se como uma solene profissão de fé perante a assembleia dos fiéis.

A própria veste de que os acólitos ministrantes se revestem para o desempenho das funções sagradas deve ser uma advertência constante a viver na graça de Deus e a servi-lo digna e generosamente: «a candura das albas e das túnicas recorde a pureza de coração com que deveis prestar serviço ao Senhor».

João XXIII terminou o seu discurso declarando o que a Igreja esperava dos acólitos ministrantes:

– a transformação do serviço litúrgico em apostolado de oração e exemplo; com efeito, «ao participar de forma devota e decorosa nas funções sagradas, ao alternar o canto com os fiéis, ao regular as orações da assembleia vós realizais um verdadeiro apostolado, dando o vosso concurso à ação mais sublime do sacerdócio»;

– uma preparação esmerada do ponto de vista litúrgico, técnico e espiritual, em ordem a um apostolado cada vez mais meritório e válido;

– a santificação pessoal como a mais nobre e desejada consequência do seu serviço: «no contacto íntimo com Jesus, Palavra vivificante e alimento substancial, a vossa fé fortalece-se, a esperança eleva-se a suaves certezas e a caridade torna-se cada vez mais ardente».

Desse modo, os acólitos ministrantes estarão a contribuir para o êxito do Concílio Ecuménico que estava prestes a começar e que se pretendia um «Concílio de aggiornamento» principalmente nessa linha: conhecimento mais profundo e amor da verdade revelada, fervor da piedade religiosa e santidade de vida.

A Igreja do Concílio convida todos os homens a subir ao «Monte Santo do Senhor» (cf. Is 2, 3). E, nesta peregrinação, os acólitos ministrantes, lado a lado com os sacerdotes, irão à frente com a oração e o exemplo.