
A mensagem do Papa Francisco para o II Dia Mundial dos Pobres é um convite a “redescobir nos pobres a beleza do Evangelho”, através de três atitudes expressas nas palavras “gritar”, “responder”, “libertar”.
Por António Jesus Cunha
No entender do Papa Francisco, estes três verbos caracterizam a atitude do pobre e a sua relação com Deus: a condição de pobreza “torna-se um grito que atravessa os céus e chega até Deus”. Pergunta o Papa: “Como é que este grito, que sobe até à presença de Deus, não consegue chegar aos nossos ouvidos e nos deixa indiferentes e impassíveis?” E apela: “Num dia como este, somos chamados a fazer um sério exame de consciência, de modo a compreender se somos verdadeiramente capazes de escutar os pobres”. Neste nosso tempo, o demasiado barulho à nossa volta torna-nos insensíveis e faz crescer em nós a indiferença. Por isso, o Papa afirma: “É do silêncio da escuta que precisamos para reconhecer a voz deles. Se falarmos demasiado, não conseguiremos escutá-los. Muitas vezes, tenho receio que tantas iniciativas, apesar de meritórias e necessárias, estejam mais orientadas para nos satisfazer a nós mesmos do que para acolher realmente o grito do pobre”. Quantas vezes, sossegamos a nossa consciência com uma moeda que damos a quem nos estende a mão. Mas este gesto desencarnado, incoerente, não nos permite ouvir o grito dos pobres, nem “entrar em sintonia com a condição deles”.
Não basta ouvir o grito dos pobres: é preciso «responder». O Papa cita o salmo 34: “O Senhor, diz o salmista, não só escuta o grito do pobre, como também responde. A sua resposta, como está atestado em toda a história da salvação, é uma participação cheia de amor na condição do pobre. Foi assim, quando Abraão apresentava a Deus o seu desejo de ter uma descendência, apesar de ele e a mulher Sara, já idosos, não terem filhos. Aconteceu quando Moisés, através do fogo de uma sarça que ardia sem se consumir, recebeu a revelação do nome divino e a missão de tirar o povo do Egito. E esta resposta confirmou-se ao longo de todo o caminho do povo no deserto: quando sentia os flagelos da fome e da sede e quando caía na pior miséria, que é a da infidelidade à aliança e da idolatria”. Sublinha o Papa: A resposta de Deus ao pobre é sempre uma intervenção de salvação para cuidar das feridas da alma e do corpo, para repor a justiça e para ajudar a recuperar uma vida com dignidade”. (Continua)