Por Lino Maia
Em França, em novembro de 1949, do encontro entre um Padre Capuchinho, o Abbé Pierre, e um homem desesperado que se queria suicidar, nasceu o Movimento Emaús.
Hoje, com 447 comunidades, o Movimento Emaús – Internacional está presente em 47 países dos quatro continentes. Em Portugal, está nas duas maiores cidades. Objetivo comum: “trabalhar com e para os mais pobres, lutando contra as causas da miséria”. A sua originalidade consiste em dar prioridade à pessoa, gerar economia com os menos capazes e promover uma sociedade de partilha em que a fraqueza de uns é sustentada pela generosidade de outros. Apresenta-se como proposta alternativa de vida para quem se encontra em situação de exclusão. Serve a sociedade na redistribuição de bens excedentários que são necessários a quem procura preços reduzidos e promove a recolha e a reciclagem de resíduos sólidos.
No Porto, a associação “Emaús, Caminho e Vida” teve a sua primeira reunião em 11 de fevereiro de 1990, nas Irmãs Canossianas. Participaram nela o Padre Henri Le Boursicaud, companheiro de Abbé Pierre, e cerca de 50 pessoas de vários locais da cidade. O Padre Serafim Ascensão, que também ele gosta de olhar nos olhos as pessoas e é incapaz de passar adiante quando nos olhos delas decifra solidões e muitas dores ainda não escutadas, muito menos acompanhadas e curadas, acompanha a tempo inteiro.
Nos seus primeiros anos, Emaús realizou várias “atividades de rua”: ações de formação e atividades lúdicas regulares, celebrações festivas para “companheiros”, ceias de Natal, passeios anuais… Simultaneamente, apoiava famílias carenciadas.
A partir de 2000, Emaús abriu-se a novos parâmetros com a aquisição e o restauro de uma casa na Rua do Almada, onde, agora, vivem tanto o Padre Serafim como alguns companheiros e onde está a funcionar uma Loja de Solidariedade. Entretanto, tem vindo a promover grandes feiras – ora no Mercado Ferreira Borges e no Pavilhão Rosa Mota, ora no CACE e no Palacete Pinto Leite.
Em 2008 iniciou a aquisição de uma outra casa (ao Marquês) para ser espaço de acolhimento e alternativa de vida para quem vive excluído e desesperado e onde, à semelhança das outras, o companheiro encontra amizade, descanso, mesa da partilha, pão, trabalho e uma vida dedicada aos outros.
Emaús vive do trabalho e sem subsídios do Estado. Tem parcerias estabelecidas com a Direção Geral de Inserção Social, sendo entidade beneficiária no âmbito da prestação de trabalho a favor da comunidade como pena alternativa à prisão. Recolhe coisas velhas e usadas na casa das pessoas: restaura o que é possível, reutiliza e vende na Loja da Solidariedade. Apoia projetos de solidariedade integrados em Emaús Portugal, Emaús Europa e Emaús Internacional, de que é membro. É um desafio à sociedade: porque as comunidades vivem do lixo e ainda ganham para partilhar…
Emaús (amigos, companheiros, responsáveis e voluntários) prossegue o seu caminho fazendo de cada um “Verdadeiro Incondicional da Partilha” (VIP)…
“Sobre a minha campa, em vez de flores e coroas, trazei-me as listas de milhares de famílias, dos milhares de crianças a quem tenham dado as chaves de uma verdadeira habitação” (Abbé Pierre, falecido em Paris em 2007).