
Em entrevista à VP, o Cónego Alfredo Ferreira da Costa, Reitor do Seminário Maior do Porto, recorda a figura de D. Domingos de Pinho Brandão, a propósito da inauguração da sala dedicada àquele que foi fundador do Museu de Arte Sacra e Arqueologia. Um espaço aberto à comunidade. A inauguração será no sábado dia 23 de junho e contará com a presença do bispo do Porto, D. Manuel Linda e da Diretora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro
Por Rui Saraiva
D. Domingos de Pinho Brandão é o nome da nova Sala do Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário Maior do Porto. Espaço que será inaugurado no próximo sábado dia 23 de junho pelas 11 horas na Biblioteca do Seminário Maior do Porto. A sessão solene será presidida por D. Manuel Linda, bispo do Porto e contará com a presença da Diretora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro.
Natural de Rossas em Arouca, D. Domingos de Pinho Brandão frequentou o Seminário Maior do Porto, terminando o seu curso de Teologia na Universidade Gregoriana. Foi ordenado sacerdote em Roma, na Basílica de S. João de Latrão em 1943. Foi reitor do Seminário Maior do Porto, escolhido por D. António Ferreira Gomes. Foi nomeado bispo auxiliar de Leiria em 1966 e, mais tarde, bispo auxiliar do Porto (1972-88). Fez investigação no âmbito da história de arte, da arqueologia, da epigrafia, da numismática e da museologia.
Foi fundador do Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário do Porto e do Museu Diocesano de Arte Sacra de Leiria. Ensinou no Liceu Alexandre Herculano, em vários colégios, centros, instituições e na Faculdade de Letras do Porto. Foi membro da Academia Nacional de Belas Artes e da Academia Portuguesa da História. Participou em reuniões científicas e trabalhos de escavação, tanto em Portugal como no estrangeiro, tendo impulsionado e organizado os Colóquios Portuenses de Arqueologia de 1961 a 1966.
Foi sobre a Sala agora dedicada a D. Domingos de Pinho Brandão no Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário Maior do Porto, que falamos com o Cónego Alfredo Ferreira da Costa, numa visita ao Museu e Igreja de S. Lourenço. O reitor do Seminário do Porto começou por referir à VP a iniciativa de D. Domingos de Pinho Brandão de fundar o Museu de Arte Sacra e Arqueologia:
AFC: Este Museu de Arte Sacra e Arqueologia foi fundado por D. Domingos de Pinho Brandão em 1958, embora exista registo de que ele pensou o Museu em 1954, tendo feito um pedido expresso dessa sua intenção ao então bispo do Porto D. António Ferreira Gomes. Entretanto, foi escrevendo a alguns antigos alunos e padres da diocese, no sentido de disponibilizarem peças que estivessem arquivadas ou em mau estado de conservação, para que fossem enviadas para o futuro Museu. Através da resposta que teve a esses seus pedidos, com a chegada de muitas peças, D. Domingos começou a catalogar minuciosamente iniciando, assim, o Museu.
VP: D. Domingos de Pinho Brandão era especialista em Arte Sacra e Arquelogia…
AFC: Há uns anos fizeram-lhe uma homenagem em Arouca e, de facto, os seus pares até o classificam como epigrafista, como sendo essa a sua especialidade. Ao tempo ele foi um visionário, ele fez a sua formação em História da Arte em Roma o que lhe deu muita preparação para no trabalho de campo poder preservar e identificar e saber interpretar e ler todo o material.
VP: Esta sala será então uma evocação de D. Domingos de Pinho Brandão?
AFC: No âmbito destas obras do Programa Portugal Norte 2020, nesta candidatura das igrejas do Centro Histórico do Porto, temos afeta à Igreja de S. Lourenço este Museu. Esta sala estava bastante deteriorada, bem como a parte da Arqueologia. E resolvemos, depois de em 2016 termos celebrado um protocolo com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, de receber o arquivo pessoal do D. Domingos de Pinho Brandão. Esse arquivo foi confiado ao Seminário pela Faculdade de Letras. Nós estamos a estudá-lo, estamos a inventariá-lo e a catalogá-lo e ficará disponível para futuras investigações e publicações. E, portanto, foi esse protocolo que assinamos em setembro de 2016, que despoletou um manancial de informação que permite agora, passados quase 60 anos, descobrir a proveniência das peças, o movimento que elas tiveram, quem as trouxe, quem as recebeu e em que estado de conservação é que estavam.
VP: Que peças é que vão estar aqui nesta Sala?
AFC: Nesta sala propriamente, que queremos seja a sala do fundador e que explique o processo de fundação do Museu e sua evolução, nós vamos ter sobretudo quatro pinturas sobre madeira que lhe foram confiadas da paróquia de Rossas, de onde D. Domingos era natural. Ele conhecia muito bem estas peças, sabia a história e estado de alguma degradação em que elas se encontravam. Essas peças foram intervencionadas na Escola das Artes da Universidade Católica, particularmente no setor da conservação e restauro. Uma delas foi objeto de uma profunda investigação e de um profundo restauro. Assim, são essas peças que esta sala vai conter, além de documentação alusiva ao início do Museu.
VP: A sala fica logo na entrada do Museu que está sempre aberto ao público…
AFC: Sim, nós temos o Museu aberto ao público de segunda-feira a sábado. Visitas individuais e em grupo. Também temos visitas guiadas. Neste trabalho que estamos a fazer de recuperação da cobertura e das fachadas da Igreja de S. Lourenço, também tornamos acessíveis as torres, com a possibilidade de uma vista sobre a cidade e sobre o Douro. (…)
A Igreja de S. Lourenço nos últimos 30 anos teve duas grandes intervenções: uma, ao tempo, orientada pela Câmara Municipal do Porto aquando do Porto Património Mundial. Essa foi uma grande intervenção. Esta é menor tratando-se sobretudo de uma correção das coberturas e das fachadas. Nós colocamos um acrescento à Igreja ao colocarmos um passadiço entre as torres que permitiu reabilitar as torres e torná-las visitáveis. E acreditamos que isso seja uma valorização do património tornando-o mais acessível.