Uma cimeira de muitas esperanças… e algumas dúvidas

A recente cimeira de Singapura [entre Trump e Kim Jong-un] justificou inteiramente o relevo que a Comunicação Social lhe consagrou. Não só pelos seus antecedentes, mas sobretudo pelas expectativas criadas e pelos resultados obtidos.

Com o progressivo agravamento das relações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, dada a multiplicação das acusações e das ameaças entre os dois países e os seus presidentes, deve dizer-se que o encontro representou um passo importantíssimo no caminho da Paz. Isto, apesar do documento final da cimeira ser demasiado genérico e não responder, para já, às muitas interrogações para as quais a opinião pública internacional precisa de respostas mais ou menos urgentes.

Por isso, e enquanto essas respostas não chegarem, será prematuro afirmar que o mundo já está livre da ameaça de uma guerra nuclear, com origem naquela região do mundo. Apesar disso, e não obstante o comportamento errático dos dois presidentes, são se pode negar ou minimizar de todo, como muitos pretendem, a importância desta cimeira.

Tratou-se dum encontro inesperado e de todo surpreendente, se recordarmos a história recente das relações entre os dois países, e se tivermos em conta ainda o pouco tempo da sua preparação e da sua realização. Depois de tantos anos dum afastamento quase sempre conflituoso, e depois de tantas ameaças e até de insultos pessoais, ninguém imaginaria que fosse tão simples e tão rápido esquecer o passado e aceitar compromissos tão importantes e sérios para o futuro, como aqueles que foram anunciados em Singapura. Tudo isso envolto num cenário de uma aparente amizade que só o tempo pode garantir e fortalecer.

Certamente por isso, não falta quem se recuse a aceitar que a península coreana tenha entrado definitivamente numa nova era de Paz. Acresce ainda, para reforçar esta perspectiva pessimista, que os dois grandes actores desta cimeira não gozam de qualquer credibilidade junto da comunidade internacional, uma vez que ambos já deram provas de um comportamento suficientemente errático para inspirar reservas, face a uma alteração tão radical e tão repentina de alguns dos seus dogmas e prioridades.

Aparentemente terá sido Kim JongUn a fazer mais cedências, e cedências mais significativas. Já as contrapartidas de Donald Trump não são ainda todas e de todo conhecidas. No entanto, algumas das que se conhecem não terão agradado particularmente aos governos da Coreia do Sul e do Japão. Apesar de tudo, as esperanças criadas por esta cimeira devem ser colocadas acima das desconfianças.