Escola do Torne

Por Joaquim Armindo

Há 150 anos era fundada, em outubro de 1868, a Escola do Torne e a “Capela do Torne”. Foi lá que fiz a minha instrução primária. Foi lá que o meu pai também fez a sua instrução primária. Seu construtor Diogo Cassels que a expensas próprias e de sua família, contribuiu para que a sua fé em Jesus fosse espalhada, construindo uma “capela” e uma escola, em tempo em que era preciso. Milhares e milhares de gaienses passaram lá, apesar das enormes dificuldades colocadas e que o seu fundador passou.

Chegou a responder em tribunal com 23 anos, por propagar doutrinas “contrárias à igreja oficial”. Era realmente uma propagação de más doutrinas dar a conhecer um livro: a Bíblia. A escola onde se aprendia a ler um livro bastante subversivo e que ainda hoje o é. Mas o sr. Dioguinho, tudo desculpava, por que assumiu desde o seu início o carater ecuménico.

Falar de Diogo Cassels, que viria a ser reconhecido com a medalha da Comenda da Ordem de Cristo (em tempo já de República), é falar da Igreja Lusitana – hoje na Comunhão Anglicana -, mas sobretudo deste vulto gaiense que tudo entregou de si mesmo ao serviço dos outros. Viria a falecer em 1928 num dos bancos da agora Avenida da República, quando regressava com um donativo para a sua escola.

Cassels cujo busto – subscrito publicamente -, está no jardim do Morro, era de tal modo ecuménico que na sua escola existiam professoras lusitanas e católicas romanas. Na sua escola, privada, ninguém pagava nada e àqueles que mais precisavam era dada uma boa sopa ao meio dia e roupas e prémios pelo Natal.

Diogo Cassels foi apedrejado por que era servo de Deus e como disse dava a Bíblia a ler, em português. Hoje os católicos romanos devem fazer a sua contrição por isso, desculpa é o mínimo que se pode exigir. Mas a ele isso não importaria, o mais importante era dar a conhecer Cristo, como o Senhor, e nunca descuidou a sua ação ao nível das pessoas. Que o diga o relógio que dava horas e meias horas e que foi o referencial do tempo, quando quase ninguém tinha relógios. Lembrar Diogo Cassels é juntamo-nos todos os antigos alunos, no ano dos 150 anos, numa grande manifestação de regozijo, homenageando Diogo Cassels, D. António Ferreira Fiandor e o Professor José Manuel Pina Cabral, seus antigos diretores, já falecidos.