Uma decisão insensata e provocatória

Os setenta anos da fundação do estado de Israel foram tragicamente assinalados pela morte de dezenas de palestinianos, e por ferimentos mais ou menos graves em cerca de três mil. Isto no decorrer de uma manifestação contra a mudança da embaixada norte -americana da cidade de Telavive para Jerusalém.

Por António José da Silva

Os palestinianos serviram-se do lançamento de pedras para atingir soldados israelitas e para dar força à chamada marcha do retorno, uma iniciativa liderada por grupos de activistas que lutam pelo regresso dos palestinianos aos territórios que tiveram de abandonar, por alturas da fundação do estado de Israel, em 1948. As forças de segurança judaicas responderam com fogo real às acções mais ou menos violentas dos manifestantes, reactivando assim, de forma dramática, o conflito que, ao longo dos anos, tem oposto palestinianos e judeus em luta por uma cidade que ambos os povos reivindicam como sua.

É certo que, mesmo sem este motivo, o velho conflito poderia reacender-se a qualquer momento, mas nenhum outro teria anta força para esse reacendimento como a proclamação de Jerusalém como capital do estado de Israel. Este já foi reconhecido pela maior parte dos países do mundo, incluindo alguns países árabes, mas o facto é que mesmo as nações amigas sempre tiveram em conta que os palestinianos nunca aceitariam a escolha de Jerusalém como capital de um estado judaico. Por isso, foram adiando sempre a hipótese de que a chamada cidade santa pudesse vir a ter esse estatuto. Há uns tempos atrás, escrevemos aqui que os norte-americanos tinham colocado na Casa Branca um verdadeiro pirómano, tantos os incêndios que o cumprimento de algumas das suas promessas haveria de provocar.

Ora, Donald Trump terá muitos defeitos, mas o incumprimento dessas promessas não constituirá propriamente um desles. O novo inquilino da Casa Branca sempre defendeu a tese de que Jerusalém devia ser a capital do estado de Israel e acabou agora por lhe dar cumprimento, apesar de saber que isso signifi caria atirar mais uma acha enorme para a fogueira que vem consumindo a Palestina.

O problema é que o fogo de uma nova Intifada pode ser ainda mais difícil de extinguir do que foi nas anteriores. E, se é certo que as maiores vítimas de um novo reacendimento serão sempre os palestinianos, também é verdade que os judeus poderão pagar um preço bem alto por ele. A decisão de Donald Trump foi pois insensata, provocatória e, por isso mesmo, perigosa.