
Por S.D.L.
Em dia de Pentecostes, o Papa Francisco anunciou que em 29 de junho próximo se realizará no Vaticano um Consistório para a nomeação de 14 novos cardeais. Foi-nos grato ouvir o nome de D. António Augusto dos Santos Marto entre os eleitos.
D. António Marto já tem um extenso e rico magistério em matéria litúrgico-sacramental. Apraz-nos, neste momento, recordar uma sua intervenção na XI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos (2-23 de Outubro de 2005) na qual participou em representação da Conferência Episcopal Portuguesa. Era, à data, Bispo de Viseu. Decorria o Ano da Eucaristia, convocado por São João Paulo II, e os trabalhos sinodais centraram-se na Eucaristia como fonte e ápice da vida e da missão da Igreja.
O resumo da intervenção de D. António Marto foi publicado no Boletim do Sínodo. Começou por falar da «urgência eucarística» delineada nos documentos preparatórios e que não resultava, como noutras épocas históricas, de incertezas doutrinais. Hoje – em 2005 como em 2018 – não é tanto a «ortodoxia» que está em causa, mas a «ortopráxis». Não são as fórmulas dogmáticas a suscitar dificuldades, mas a própria prática e vivência deste mistério central da fé e da vida cristã. Índice disso mesmo era e é o declínio da frequência da Missa Dominical e da estima em relação à Eucaristia vista como uma «coisa», «uma prática», uma imposição a que se faz cada vez menos caso…
«Como despertar de novo o enlevo eucarístico, o sentido da maravilha perante o mistério da Eucaristia, se não se consegue descobrir a sua beleza?» – interrogava D. António Marto. Perante a cultura pós-moderna dominada pelo relativismo em relação à verdade e ao bem mas ainda fascinada pela estética, torna-se imperioso percorrer o «caminho da beleza». «A Eucaristia é o mais sublime ícone da beleza de Deus revelada em Cristo, porque é a presença real do “mais belo entre os filhos dos homens” (Sl 45, 3) na totalidade da sua presença de ressuscitado e na plenitude do seu mistério: a beleza do amor que se nos dá, nos redime e transfigura, nos revela o olhar do Pai que permanentemente nos cria e nos faz bons e belos». Este é um desafio não só para a teologia, mas também para a Pastoral que deve proporcionar ao homem de hoje o encontro com a beleza da fé.
Tudo isto pressupõe e implica um projeto evangelizador de grande fôlego que brota da Eucaristia e para o qual D. António Marto considerava essenciais os seguintes pontos:
a) Fazer ver o nexo existente entre a Eucaristia e as aspirações profundas do coração do homem contemporâneo;
b) partir de novo de Cristo, indo ao coração da fé mediante o primeiro anúncio;
c) promover a qualidade e a beleza da celebração eucarística como momento privilegiado de evangelização de tipo mistagógico.
d) A Eucaristia é também para o mundo. A assembleia eucarística, para além de ser um testemunho público da fé, é também portadora de uma cultura eucarística, de atitudes e de comportamentos pessoais e sociais: a experiência da fraternidade, do espírito de reconciliação e de paz, o sentido da partilha e da solidariedade, a força da esperança, a dimensão festiva da vida… São atitudes humanas que configuram uma espiritualidade eucarística, contributo indispensável para construir a civilização da Beleza e do Amor.
Se a intervenção sinodal foi excelentíssima, a urgência pastoral nela realçada é eminentíssima.