Eloquência do silêncio

A oração é uma lenta e serena aprendizagem do silêncio, na aproximação possível do profundo e insondável mistério de Deus, em comunhão fraterna com todas as suas criaturas. Nunca rezei tanto como em graves momentos de sofrimento com um único objetivo: estar na intimidade de Deus na vida presente como na futura, no tempo como na eternidade, e ter a alegria da companhia de todos os eleitos, os santos, meus irmãos, para interpretarmos em coro a celestial a sinfonia divina. Contemplativo na ação e ativo na contemplação, sei distinguir no possível a súplica da ação de graças e o louvor da adoração.

Limito-me a balbuciar palavras doces de amor até à eloquência do silêncio. Calado, o mais calado possível, sei que Deus me conhece até ao íntimo e abandono-me ao seu carinho de Pai, com a ajuda possível da Mãe do seu Filho e nossa Mãe que me recebe no seu colo maternal e me aquieta o coração. Desculpem-me, estou em silêncio e nunca tão ouvinte do que me dizem os meus interlocutores como de quem me quiser ouvir o que melhor tenho para lhes dizer, saudáveis ou doentes. Apenas e só uma coisa muito simples e muito verdadeira: sejam felizes e semeiem felicidade a rodos. Rezar é também estar na companhia fraterna e amiga com todos os homens e mulheres, e com a opção preferencial pelos mais frágeis e mais padecentes.

Não há desculpa possível para ser egoísta na dor. A dor é para pôr em comum com quem sofre no corpo ou no espírito. Quem não sabe partilhar com sabedoria e delicadeza a dor perde uma boa ocasião para ajudar os outros a serem mais felizes. Detesto a patologia obsessiva da dor, o dolorismo, e a resignação de quem, vencido ou derrotado, já desistiu de combater até à exaustão os males dolorosos quaisquer que sejam, reversíveis ou irreversíveis. Meia cura ou mais está em quem sofre e tudo espera para se libertar da ignomínia do sofrimento, que, mesmo assim, se for real, é para combater e jamais para ser perdido como prova de vida que germina na semente da terra húmida e cálida com a esperança de vida nova à luz do Sol ou como a criança que sonha no seio materno com a beleza do que será a sua vida à luz do dia e para longo futuro. Outos agentes, absolutamente obrigatórios, são o pessoal de saúde e a sua suposta e desejada competência

No resto e é tudo, seja a vontade de Deus, o único que nos leva a cantar o hino da vida para além das agruras da morte. Sou homem de palavra, oral ou escrita. Pouco mais sei do que comunicar e ouvir as respostas possíveis às mensagens. Quem me dera voltar ao normal, Mas ainda não me é possível, nem sei quando. Até lá, garanto-vos, estou na eloquência do silêncio, aprendendo o essencial para mim, para vós, queridos leitores, e, como só desejo, para Deus, até que Ele seja tudo em todos.

Até breve!

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