
Por Joaquim Armindo
Mal da Igreja onde não existam tensões, opiniões diferentes e debates exaustivos, mas em tudo isso a escrupulosa atitude de dignificação das pessoas. Virgilio David, na Concilium de abril, disto faz nota, quando menciona a carta as Gálatas, onde Paulo escreve sobre a circuncisão ou não, que não existe distinção entre judeu ou gentio, escravo ou livre, homem ou mulher, mas todos permanecem em Cristo e são descendentes de Abraão. Virgilio comenta que Paulo ao referir-se assim está a tomar posição a favor dos gregos, dos escravos, das mulheres e de todos os descriminados e contra todas e todos que são os fazedores ou cúmplices da descriminação, só porque os judeus eram circuncidados e os gregos não. Paulo apela à unidade no Senhor, acima de todas as diferenças étnicas, estatuto social ou género. Estas tensões ainda existem entre nós, e as diferenças são pronunciadas, sobretudo dada a evolução culturas das pessoas na sociedade. Ainda existem “gentios”, “escravos” e “mulheres” que são sujeitos à descriminação.
O agora Cónego Padre Rui Osório em entrevista ao “O Novo Despertar” (jornal da Igreja Lusitana), concedida e publicada no seu número 43, de Julho de 1988, atento, como sempre, a questões de descriminação, ao referir o “celibato como obrigação dos padres” e à “ordenação de mulheres”, afirma: “Não vejo inconveniente algum em que a Igreja Católica Romana venha a aceitar ordenar homens celibatários e homens casados, o que já faz quanto ao diaconado permanente” e “Quanto à ordenação de mulheres, apesar de a reflexão teológica não levantar quaisquer obstáculos com razoável fundamentação bíblica e teológica, não me parece devida à sedimentação cultural e civilizacional, que a Igreja Católica dê, nos tempos mais próximos, grandes passos em frente”.
Aqui estão dois pontos de tensão latentes da Igreja, que são tensões, mas que alimentados pelo Espírito do Senhor haveremos de reafirmar ou lamentar estas situações. Tal qual o problema da circuncisão ou não, que distinguia os judeus dos gregos e que no primeiro concílio de Jerusalém (capítulo 15, Atos dos Apóstolos) foi discutido e aprovada a não descriminação. Não tenhamos medo, portanto, das tensões geradas por estas questões, que se estão cada vez mais a colocar-se.