
No domingo 22 de abril, Dia Mundial da Terra, o Papa lançou um tweet em defesa da Casa Comum. Nesse mesmo dia várias organizações católicas anunciaram retirar milhões de euros de empresas que investem em combustíveis fósseis. Assinalamos aqui a declaração da Comissão Nacional Justiça e Paz e recordamos a Encíclica ‘Laudato Si’ de Francisco
Por Rui Saraiva
Foi logo na alvorada de domingo 22 de abril, Dia Mundial da Terra, pelas 06.30h, que a conta de Twitter do Papa Francisco, @pontifex, lançou uma mensagem em defesa do planeta: “Vamos seguir o exemplo de São Francisco de Assis: cuidemos da nossa Casa comum”. Uma mensagem enquadrada nos múltiplos apelos que o Santo Padre tem vindo a fazer para ser preservada a Criação. Destaque principal para o grande apelo de Francisco que foi a Encíclica ‘Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum.
Católicos pelo desinvestimento em combustíveis fósseis
Seguindo os apelos do Papa Francisco, o Movimento Católico Global pelo Clima anunciou neste domingo, segundo a Agência Ecclesia, que “dezenas de instituições católicas, da Caritas Internacional a bancos, uniram-se à campanha internacional que visa retirar milhões de euros de empresas ligadas a combustíveis fósseis e energias poluentes”.
A iniciativa do Movimento Católico Global pelo Clima quer “responder aos apelos do Papa Francisco na sua encíclica «Laudato si’», “no sentido de uma conversão ecológica de cuidado com a casa comum, de solidariedade com as pessoas e povos mais pobres (os que mais sofrem com as alterações climáticas) e de solidariedade com as gerações futuras” – escreve a Agência Ecclesia sublinhando que este “compromisso abrange, neste momento, 95 ordens religiosas, instituições laicais, organizações de solidariedade e financeiras, além de várias dioceses e movimentos”. Já em outubro de 2017 um primeiro grupo de organizações católicas tinha lançado uma mobilização mundial contra a dependência de combustíveis fósseis promovendo investimentos amigos do ambiente.
A declaração da Comissão
Nacional Justiça e Paz
Em Portugal, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) publicou uma nota na passada quinta-feira dia 19 de abril com o título: “Desinvestimento em combustíveis fósseis”. Nessa declaração, por ocasião do Dia Mundial da Terra, 22 de abril, a CNJP “anuncia a sua adesão à iniciativa do Movimento Católico Global pelo Clima (Global Catholic Climate Movement) de desinvestimento em empresas ligadas à exploração de combustíveis fósseis. Essa iniciativa de organismos católicos de vários países traduz-se na assunção do compromisso de recusa de colaboração em investimentos dessas empresas.”
A CNJP assinala ainda que com este compromisso “pretende responder aos apelos do Papa Francisco na sua encíclica Laudato si’ no sentido de uma conversão ecológica de cuidado com a casa comum, de solidariedade com as pessoas e povos mais pobres e de solidariedade com as gerações futuras.
O compromisso que assume pretende ser um gesto de coerência moral com esse propósito de conversão ecológica e um sinal de testemunho profético que alerta para a necessidade de acelerar a transição para o uso de energias renováveis (porque assim o exige essa solidariedade para com os pobres e para com as gerações futuras)” – escreve a Comissão Nacional Justiça e Paz, em Portugal.
Laudato Si: ecologia integral, novo paradigma de justiça
Na Encíclica “‘Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum”, publicada em 2015, o Papa Francisco propõe uma “ecologia integral” que seja novo paradigma de justiça e que erradique a miséria e a desigualdade no acesso aos recursos. Nos seis capítulos da Encíclica, Francisco de Roma coloca-se na esteira de Francisco de Assis e inspira-se no Cântico das Criaturas para recordar que a terra “pode-se comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma mãe, que nos acolhe nos seus braços”. Esta terra agora, está maltratada e saqueada e ouvem-se os gemidos dos abandonados do mundo – escreve o Papa Francisco.
É preciso uma “conversão ecológica” – evidencia o Papa na sua Encíclica – uma “mudança de rumo”, para que o homem assuma a responsabilidade de um compromisso para o cuidado da casa comum. Um compromisso para erradicar a miséria e promover a igualdade de acesso para todos aos recursos do planeta.
Não à cultura do descartável
A Encíclica faz, assim, um diagnóstico minucioso dos males do planeta: poluição, mudanças climáticas, desaparecimento da biodiversidade, débito ecológico entre o Norte e o Sul do mundo, antropocentrismo, predomínio da tecnocracia e da finança que leva a salvar os bancos em detrimento da população, propriedade privada não subordinada ao destino universal dos bens. Sobre tudo isto parece prevalecer uma cultura do descartável, usa e deita fora, algo que leva a explorar as crianças, a abandonar os idosos, a reduzir os outros à escravidão, a praticar o comércio dos diamantes de sangue. É a mesma lógica de muitas mafias – escreve o Papa Francisco.
Necessária nova economia, mais atenta à ética
Perante isto, podemos ler na Encíclica, é necessária uma “revolução cultural corajosa” que mantenha em primeiro plano o valor e a tutela da cada vida humana, porque a defesa da natureza “não é compatível com a justificação do aborto” e “cada mau trato a uma criatura é contrário à dignidade humana”. O Santo Padre pede diálogo entre política e economia e a nível internacional não poupa um juízo severo aos líderes mundiais relativamente à falta de decisões políticas a nível ambiental e propõe uma nova economia mais atenta à ética.
Investir na formação para uma ecologia integral
A Encíclica de Francisco sublinha que se deve investir na formação para uma ecologia integral, para compreender que o ambiente é um dom de Deus, uma herança comum que se deve administrar e não destruir. E bastam pequenos gestos quotidianos: fazer a recolha diferenciada dos lixos, não desperdiçar água e alimentos, apagar luzes inúteis, agasalhar-se um pouco mais em vez de acender o aquecimento. Desta forma, poderemos sentir que “temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo e que vale a pena sermos bons e honestos”.
A Encíclica convida, assim, a praticarmos os sacramentos, em particular a Eucaristia, que “une céu e terra
e nos orienta a ser guardiões de toda
a Criação”.