
Na homilia da Missa da sua Entrada Solene na diocese do Porto, D. Manuel Linda, convocou os diocesanos para o serviço e trabalho numa equipa onde não haverá suplentes. O bispo do Porto afirmou que conta com “todos como titulares e em campo”
Por Rui Saraiva
A Catedral do Porto foi pequena para acolher os fiéis que quiseram participar na Entrada Solene de D. Manuel Linda na diocese. Presentes autoridades civis e militares, o Núncio Apostólico, bispos das dioceses de Portugal, sacerdotes, diáconos e largas centenas de fiéis diocesanos que dentro e fora da Catedral quiseram marcar presença em tão importante momento da diocese. Curiosamente, nesta data D. Manuel Linda completou 62 anos de vida. No final da Eucaristia cantaram-lhe os parabéns.
No sotaque de D. António
O domingo dia 15 de abril de 2018 foi um dia de festa e comovida alegria depois dos meses vividos após a morte de D. António Francisco dos Santos. Dele fez memória o novo bispo do Porto num registo profundo, belo e sentido. D. Manuel Linda, dirigindo-se ao senhor Núncio, interrogou-se sobre as razões da sua nomeação e disse encontrar apenas uma razão para a sua escolha como bispo do Porto: o sotaque beirão. Foram estas as suas palavras:
“Senhor Núncio Apostólico, interrogo-me sobre as razões da minha nomeação para tão honroso ministério, como seja este de Bispo do Porto, na tradição, por exemplo, desse eminente e inesquecível D. António Barroso, cujo báculo acompanhou todos os meus antecessores, desde há cem anos e, agora, me sustenta a mim próprio. E não encontro outro motivo que não seja o meu sotaque beirão, mais propriamente da Beira Douro: o Porto já estava habituado a ele desde o senhor D. António Francisco. Pois bem, se o imito na pronúncia, saiba, igualmente, continuá-lo na simplicidade encantadora, na afetividade envolvente e na bondade contagiante. É que, tal como ele, também eu estou convencido que só isso lança pontes da Igreja para o mundo e do mundo para a Igreja.”
Nessa ocasião o bispo do Porto aproveitou para agradecer “o gesto das Câmaras Municipais do Porto e de Vila Nova de Gaia de atribuir o nome de D. António Francisco dos Santos à nova ponte” sobre o Douro.
Na intimidade com o Ressuscitado
Na sua homilia D. Manuel Linda recordou a passagem do Evangelho proclamada na celebração dizendo: “Aquele que congregou os Doze à sua volta, qual verdadeira família, e sofreu a sua fuga e abandono, parece que não consegue viver sem eles. Por isso, procura-os e recria a antiga convivialidade, como se nada tivesse acontecido”. Para o bispo do Porto esta passagem evangélica revela a necessidade de “intimidade” com Jesus, o “Ressuscitado”, que permite “recomeçarmos uma nova caminhada” mesmo na nossa “traição mais vergonhosa”. Uma intimidade que permite o apostolado no “anúncio, celebração e compromisso” que no Porto deverão ser – segundo o bispo – “a nossa ‘alegria’ e “a nossa missão’.
E o apostolado deve ser vivido recuperando “continuamente” a “obra da salvação” com “os enormes contributos” dos “múltiplos sectores da sociedade” – disse D. Manuel Linda apontando alguns: “a transmissão dos valores na família, o inestimável contributo da cultura, a força ordenadora da lei justa, o papel organizador da atividade político-administrativa, a prevenção ou repressão atribuídas às Forças Armadas e às Forças de Segurança…”
Comover os corações sem excluir ninguém
D. Manuel Linda nesta sua primeira homilia como bispo do Porto afirmou que conta com todos os diocesanos, em particular, com os jovens aos quais repetiu as palavras do Papa Francisco: “O tempo em que vivemos não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com sapatos. Melhor: com as sapatilhas calçadas. Este tempo só aceita jogadores titulares em campo, não no banco de suplentes”.
“Caros diocesanos do Porto, minhas senhoras e meus senhores, esta é a nossa missão. Porventura, mesmo sem o reconhecer, esta é a fermentação evangélica que o nosso mundo anseia” – declarou D. Manuel Linda que citou Agustina Bessa-Luís para afirmar que “ser presença da Igreja neste mundo passa, consequentemente, por ‘comover [os corações] para desconvocar a angústia e aligeirar o medo’.
“Para esta ação pastoral de “comover” os corações, conto com todos. Com todos” – frisou o bispo do Porto introduzindo a ideia de uma “equipa diocesana” da qual ninguém está excluído:
“A nossa equipa diocesana do Porto não terá, portanto, suplentes: nem jovens nem crianças, nem adultos nem idosos, nem ricos nem pobres, nem cultos nem humilhados. Tê-los-á a todos como titulares e em campo. Certamente treinados e capitaneados pelos bispos e padres. Não para gáudio destes, mas para, mais organicamente, obter bons resultados e marcar pontos no atuar da salvação no mundo.”
D. Manuel Linda concluiu a sua homilia afirmando: “Caros fiéis em Cristo, estamos todos na «barca de Pedro»: ou navegamos ou nos afundamos. Então, o melhor será remarmos em conjunto.”