Ainda e sempre a Síria

A Causa das Coisas

Por António José da Silva

O lugar da Coreia do Norte no quadro das grandes preocupações da comunidade internacional volta agora a ser ocupado pela Síria. Isto, pela notícia do lançamento de uma centena de mísseis ocidentais contra fábricas de armas químicas instaladas neste país, algumas perto mesmo perto de Damasco. Nas curtas horas que se seguiram a essa notícia, pode dizer-se que o mundo conteve a respiração, à espera da reacção de Vladimir Putin, porque essa resposta poderia levar a uma guerra de consequências catastróficas para a Humanidade. Na verdade, o presidente russo tinha deixado bem claro que um ataque americano à Síria não ficaria sem uma resposta à altura. Ora, pelo menos até este momento, essa resposta não veio, pelo menos por via militar. E o mundo parece ter respirado de alívio. Neste momento, trava-se “apenas” uma guerra de palavras. Só que esta promete continuar e arrisca-se a atingir um ponto da não retorno. É uma guerra de acusações mútuas que a opinião pública não pode confirmar, mas que servem para envenenar ainda mais as já envenenadas relações entre a Rússia e alguns países ocidentais, nomeadamente os Estados Unidos, a Inglaterra e a França.

Para já, e enquanto nâo se conhecem todos os pormenores do ataque aéreo ocidental, parece que Donald Trump venceu este primeiro round com Vladimir Putin, porque parece ter alcançado, sem baixas conhecidas, os objectivos pretendidos neste primeiro aviso.  No entanto, bom seria para o mundo que o presidente americano se desse agora ao trabalho de corrigir a sua fanfarronice e não provocasse demasiado o presidente russo que, já depois de algumas ameaças assustadoras, deu sinais de uma inesperada contenção verbal. Quem conhece Vladimir Putin sabe que ele já demonstrou várias vezes não ter medo de tomar decisões drásticas, mesmo que perigosas, em nome da afirmação do prestígio do seu país.

Assad está longe de ter atrás de si a maioria da opinião pública mundial e mesmo dos países árabes, e também não pode pagar o apoio de Moscovo com barris de petróleo, um produto de que, aliás, a Rússia não precisa assim tanto. Para Vladimir Putin, o que certamente está causa neste apoio, é impedir que Washington possa agir como se ainda fosse a única superpotência naquela região. Este é o verdadeiro pretexto de uma guerra que, a qualquer momento, pode desaguar num conflito de dimensão muito maior.