Páscoa na Catedral do Porto

Foto: Rui Saraiva

No Tríduo Pascal, na Catedral do Porto, o Administrador Diocesano e os bispos auxiliares dividiram entre si a presidência das várias celebrações pascais. Neste espaço fazemos uma leitura das homilias pronunciadas em cada uma dessas celebrações

Por Rui Saraiva

Missa Crismal

Sacerdotes enviados aos pobres, aos oprimidos e aos esquecidos

O Tríduo Pascal começou com a tradicional Missa Crismal que reuniu o Administrado Diocesano do Porto e os bispos auxiliares com os sacerdotes da diocese. D. António Taipa na sua homilia sublinhou a importância do serviço dos sacerdotes na Diocese do Porto. O Administrador Diocesano do Porto, na sua homilia, assinalou também o papel do bispo como unidade da Igreja local, tendo recordado o bispo eleito D. Manuel Linda afirmando que o novo bispo do Porto “está, certamente no nosso coração e na nossa esperança”.

D. António Taipa referiu no início da sua homilia à consagração do Óleo do Crisma e à bênção do Óleo dos Catecúmenos e dos Enfermos” que foram “levados pelos presbíteros presentes para todas as paróquias e comunidades da diocese. Com eles vai o Bispo que os consagrou e benzeu, vai o Bispo princípio e fundamento da unidade da Igreja local” – disse D. António.

Tendo sublinhado a importância da “unidade” no serviço ao povo de Deus, o Administrador Diocesano do Porto assinalou a Missa Crismal “como uma grande festa do sacerdócio” e frisou que nesta particular “pertença ao Senhor, radica uma acrescida exigência de santidade para todo o sacerdote. Uma especial configuração com Cristo em quem atuamos para o bem de toda a Comunidade cristã”.

“Por isso o “homem de Deus” que somos, que é cada um de nós, há-de ser também um “homem de oração”, como dizia o Santo Padre São João Paulo II. Homem do silêncio. Da reflexão. Da meditação. Chamado a ler e a ver a história à luz do Jesus que o apaixonou, à luz do Pai, o Senhor, a origem e a meta da vida. Homem que, nessa vida, no mundo das relações dos homens, sabe ouvir a palavra de Deus que permanentemente o interpela. Diferentes, temos de ter e de ser uma palavra sempre nova, de acordo com a novidade do cada tempo” – disse o Administrador Diocesano do Porto.

Em especial, D. António Taipa salientou, dirigindo-se aos sacerdotes presentes, que “é aos pobres que somos enviados: aos cativos e aos cegos, aos oprimidos e aos esquecidos. A todos esses, tantos e tantas, que estão abertos à palavra de Jesus. Abertos à esperança de um futuro melhor”.

“É neste patamar que hoje e aqui, nesta comunhão e fraternidade que o Espírito cria em nós, vamos renovar as nossas promessas sacerdotais. A nossa fidelidade ao Senhor que nos chamou e nos envia, ao ministério que nos confiou, ao povo que nos entregou” – disse D. António Taipa no final da sua homilia.

 

Missa da Ceia do Senhor

“O triste espetáculo dos sem-abrigo”

D. Pio Alves presidiu à Missa da Ceia do Senhor com o Rito do Lava-Pés e sublinhou “a misericórdia, o serviço, a proximidade, o perdão” como “parte inalienável” da identidade dos cristãos. O bispo auxiliar do Porto, na sua homilia, afirmou que “amar até ao fim é a medida do amor dos discípulos de Jesus Cristo”.

D. Pio Alves afirmou que “somos filhos de Deus; somos cristãos, discípulos e seguidores do Mestre” e, por isso devemos fazer como Jesus fez: “lavar os pés uns aos outros”. “Não podemos fugir à carga real e simbólica deste gesto que a liturgia do dia de hoje põe à nossa frente. Gesto que, como nos recorda o Plano Diocesano para este tempo de Quaresma e Páscoa, tem a marca do Amor e da Cruz: “Movidos pelo Amor que se entrega na Cruz!” – recordou D. Pio Alves.

O bispo auxiliar do Porto assinalou que “lavar os pés é disponibilidade na vida familiar; é qualidade da relação pessoal no trabalho profissional; é atenção aos desprotegidos; é participação, com verdadeiro espírito de serviço, na vida da comunidade eclesial e civil; é presença construtiva nos mundos mais complicados da sociedade, aparentemente, desdenháveis”.

D. Pio Alves denunciou na sua homilia a situação dos sem-abrigo na cidade do Porto:”Sem menorizar nenhuma situação, continua a ser uma realidade gritante, entre outras, o triste espetáculo dos sem-abrigo, nomeadamente na cidade do Porto. Sei como é complexa a construção de respostas, que o sejam de verdade. Mas sei também que podemos correr o risco de gastar energias e meios na idealização de excelentes teses burocráticas que ficam no papel e não chegam à rua. Este é, entre muitos, um desafio à nossa condição de cidadãos e de crentes. Considero que, pela sua gravidade, deve ocupar um lugar na tarde de quinta-feira santa”.

No final da sua homilia D. Pio Alves assinalou que “há muitos pés para lavar!” e declarou que “amar até ao fim é a medida do amor dos discípulos de Jesus Cristo”.

 

Celebração da Paixão do Senhor

“Que a morte humana seja sempre digna”

D. António Augusto Azevedo presidiu à Celebração da Paixão do Senhor na Catedral. Lembrou as vítimas do terrorismo e da exploração e afirmou que ““na cruz descobrimos a verdade sobre Deus e sobre nós próprios”.

Na sua homilia, D. António Augusto começou por pedir aos fiéis uma “atitude de silêncio e adoração diante da cruz em que Nosso Senhor Jesus Cristo deu a vida pela salvação da humanidade”. “O mistério desta cruz não só está diante de nós, mas nos envolve e abre-nos ao sentido último e definitivo da nossa existência” – afirmou.

O bispo auxiliar do Porto frisou que “no rosto de Jesus transparece a imagem de um Deus compassivo perante a humanidade ferida, de um Deus solidário com todos os rejeitados. É o testemunho de que «na verdade nós não temos um Sumo Sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas» (Heb 4,15). Esta é a verdade mais profunda sobre Deus e sobre o homem que a Páscoa proclama” – disse.

“Na cruz descobrimos a verdade sobre Deus e sobre nós próprios” – afirmou D. António Augusto que referiu a narração do evangelista S. João e a expressão ‘tudo está consumado’. O bispo auxiliar do Porto considerou que com “esta palavra Jesus manifesta a sua consciência de ter cumprido até ao fim a vontade do Pai, atesta o seu entendimento da própria vida como obediência ao Pai, de confiança sem limites no seu amor”.

“A partir destas derradeiras palavras de Jesus, este dia, celebrando a paixão e a morte, é celebração da vida e da esperança. Da vida vivida com sentido até ao fim; da vida dada por amor; da vida entregue a Deus e por isso cheia de esperança e de futuro. Com inspiração na morte do Redentor, que a morte humana seja sempre digna, entrega amorosa nas mãos do Pai, abertura confiante à vida em plenitude que só Deus pode dar” – disse D. António Augusto recordando as palavras do Papa Francisco:

“«Ó Cristo, pedimos-te que nos ensines a nunca nos envergonharmos da tua cruz, a não a instrumentalizar mas a honrá-la e adorá-la porque com ela tu nos manifestaste a monstruosidade dos nossos pecados, a grandeza do teu amor, a injustiça dos nossos julgamentos e o poder da tua misericórdia. Amen»”.

 

Vigília Pascal

Páscoa: “fogo novo que nos comprometemos a levar para a nossa vida”

No Sábado Santo foi D. António Taipa quem presidiu `Celebração da Paixão do Senhor tendo afirmado que “o fogo que Jesus trouxe” no “seu Mistério Pascal” aquece e ilumina a humanidade. O Administrador Diocesano do Porto afirmou no final da sua homilia que “o Senhor Jesus o Ressuscitado, nos ilumine. Nos incendeie. Irradie da nossa vida”.

Assinalando que a Vigília Pascal é a vigília maior “a noite das grandes maravilhas de Senhor”. A “noite da vida. Da liberdade. A noite da verdade e do perdão” – afirmou D. António Taipa: “Noite que há de marcar e iluminar a vida, toda a vida do cristão, no seu caminhar para o encontro final e definitivo com Jesus. A sua salvação”.

“Desde a primeira noite em que O criador arrancou às trevas do nada e trouxe à luz da existência todo o universo, em que pela força do seu Verbo, luz de vida, criou todas as coisas; desde a noite em que o Senhor arrancou às trevas da escravatura, para a luz da liberdade que, ao seu povo, lhe oferecia como o grande dom; desde o princípio que a criação e a história se projetam, na esperança, para a sua plenitude em Jesus Cristo, Verbo de Deus, criador e salvador” – disse o Administrador Diocesano do Porto.

Recordando que na Vigília Pascal são renovados os compromissos do batismo – D. António Taipa assinalou a Luz do início da celebração “é o fogo novo que nos comprometemos a levar para a nossa vida. O fogo que Jesus trouxe e quer que aqueça e ilumine a humanidade que redimiu.

 

Missa do Domingo da Ressurreição

“A fé não inventa realidades: abre caminhos que ultrapassam a capacidade da razão”

Foi D. Pio Alves que presidiu à Missa de Domingo de Páscoa na Catedral do Porto e afirmou que a celebração da Ressurreição de Jesus “abre para a insondável realidade onde mora a esperança”. Assinalando na sua homilia a vontade de ressuscitar para a esperança, D. Pio Alves…

Recordando a Vigília Pascal da noite anterior, o bispo auxiliar do Porto, disse que perante a Ressurreição de Jesus “não estamos diante de um atentado à dignidade da razão humana. Estamos frente a um passo que a vida do Ressuscitado preparou e a sedução da resposta ao Amor tornou possível”.

D. Pio Alves citou S. João Crisóstomo que com o seu “génio literário” afirmou que Jesus “da mesma maneira que nasceu das entranhas imaculadas da Virgem, assim surgiu do sepulcro fechado. E tal como o unigénito Filho de Deus se converteu no primogénito de uma mãe, assim também pela sua ressurreição se converteu no primogénito de entre os mortos”.

Para D. Pio “a fé não inventa realidades: abre caminhos que ultrapassam a capacidade da razão. Caminhos que conduzem a mundos renovados, onde o homem redescobre mais plenamente o sentido da sua vida e, por isso, a Felicidade. Pelo contrário, se vivemos atados às nossas estreitas medidas; se eliminamos ou diminuímos drasticamente a capacidade de surpresa; se reduzimos tudo a fria matemática, cavamos o nosso próprio sepulcro. E aí não há horizonte, não há luz, não há futuro” – declarou o bispo auxiliar do Porto.

“Sim: a fé não inventa realidades: abre para a insondável realidade onde mora a esperança” – disse D. Pio Alves que pediu a Deus que nos livre do “terrível engano de ser cristãos sem esperança” e afirmou no final da sua homilia: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente”. Ressuscitemos para uma vida nova. Pela fé e pelo amor sejamos fermento de uma sociedade onde brilhe para todos o sol da esperança.”