
A FÉ DOS SIMPLES
Por António Jesus Cunha
Na homilia da Vigília Pascal de 2014, o Papa Francisco convidou toda a Igreja a deixar desabar todas as suas certezas, assumir a fragilidade da fé e “regressar” à Galileia. Explicou: “A Galileia é o lugar da primeira chamada, onde tudo começara! Trata-se de voltar lá, voltar ao lugar da primeira chamada”. Sublinhou: “Voltar à Galileia signifi ca reler tudo a partir da cruz e da vitória; sem medo, «não temais». Reler tudo – a pregação, os milagres, a nova comunidade, os entusiasmos e as deserções, até a traição – reler tudo a partir do fi m, que é um novo início, a partir deste supremo ato de amor”. A Páscoa terá que ser sempre este “novo início”, lido e fundamentado no “ato supremo de amor” revelado na Cruz, e projetado na vida nova da Ressurreição.
O “regressar” à Galileia aplica-se, não só em termos abstratos à Igreja, mas a cada batizado. Francisco explica este “regressar” em termos individuais: “Também para cada um de nós há uma «Galileia», no princípio do caminho com Jesus. «Partir para a Galileia» significa uma coisa estupenda: a redescoberta do nosso Batismo como fonte viva, e tirar energia nova da raiz da nossa fé e da nossa experiência cristã. Voltar para a Galileia significa antes de tudo regressar lá, àquele ponto incandescente onde a Graça de Deus me tocou no início do caminho. É desta centelha de luz que posso acender o fogo para o dia de hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos. A partir daquela centelha, acende-se uma alegria humilde, uma alegria que não ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria mansa e bondosa”.
Não haverá Páscoa sem encontro pessoal com Jesus Ressuscitado. É o que ensina Francisco: “Na vida do cristão, depois do Batismo, há também outra «Galileia», uma «Galileia» mais existencial: a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, que me chamou para O seguir e participar na sua missão. Neste sentido, ‘voltar’ à Galileia significa guardar no coração a memória viva desta chamada, quando Jesus passou pela minha estrada, olhou-me com misericórdia, pediu-me para O seguir; ‘voltar’ para Galileia significa recuperar a lembrança daquele momento em que os seus olhos se cruzaram com os meus, quando me fez sentir que me amava”.