Líbia: os tentáculos do petróleo

Pascal Rossignol/Reuters

A CAUSA DAS COISAS

Por António José da Silva

No final do século do século passado e princípios do novo século, a Líbia motivou um grande interesse por parte dos Meios de Comunicação do Ocidente. E não foi por se tratar de uma grande potência, pese embora a extensão do seu território e das suas reservas petrolíferas. Foi sobretudo pela revolução que, em 1969, levou à queda da monarquia e ao caminho que o novo regime começara a trilhar sob a liderança do coronel Muamar Kadafi. A sua ideologia política e seu comportamento pessoal, quase sempre extravagante, colocaram o país sob os holofotes da opinião pública internacional.

Apesar dessas extravagâncias, e da sua política errante, Kadafi conseguiu aguentar o seu poder absoluto e discricionário, pelo menos enquanto o preço do petróleo não começou a cair drasticamente, permitindo-lhe manter uma política social que lhe granjeou grandes apoios entre a população. Depois, à queda dos preços do petróleo juntaram-se as sanções internacionais justificadas pela ajuda política e material que ele fornecia a grupos e movimentos terroristas. A partir daí, a Líbia passou a ser considerada um estado apoiante do terrorismo internacional, e mesmo um estado terrorista, classificação ainda mais justificada pelo trágico atentado de Lockerbie, alegadamente cometido por dois operacionais dos seus serviços secretos. Seja como for, estavam criadas as condições para a eclosão de uma guerra civil que se saldou temporariamente pela derrota militar das forças de Kadafi e pela morte e linchamento do homem que governou o país durante mais de quarenta anos. E dizemos temporariamente porque, no terreno, a guerra não chegou a terminar de todo. Embora a Líbia tenha hoje um governo reconhecido internacionalmente, alguns grupos políticos e militares formados ao longo dos últimos anos da governação de Kadafi ainda dão sinais de vida, pondo em causa a estabilidade do país.

Mas não foi por estas perturbações que a Comunicação voltou a manifestar interesse especial pela Líbia, mas sim por causa das acusações que levaram à detenção e audição de Nicolas Sarkozi, o ex-presidente da república francesa, dando origem a um drama judicial que tem Muamar Kadafi, como um dos principais atores. O grande mistério desta acusação contra Sarkozi reside no facto de ele ter sido o grande defensor da intervenção internacional na Líbia, intervenção que acabaria por levar à morte política e física do homem que terá patrocinado a sua campanha eleitoral, em 2007. Mistério explicado certamente pelos tentáculos do petróleo…