Por Joaquim Armindo
Muitas vezes me encontro a pensar porque Jesus morreu numa cruz. Em linguagem de hoje, diremos que um inocente, chamado Jesus, foi condenado à pena máxima – a execução -, porque Deus, o Pai, o exigiu, para resgatar a humanidade de todos os seus pecados; se não fosse isso toda a humanidade não era salva. O Pai nem o salvou das dores, dos pregos nas suas mãos e pés e na lança que lhe trespassou o lado, ao ponto de Jesus lançar o lamento a Deus porque Este o abandonou. Embora estas palavras reflexivas sejam duras, os ouvidos que as ouvem ou leem, começam a desconfiar deste Deus dos cristãos que é Amor e Misericórdia. Perguntam-se a si próprios – e nós, lá no fundo, também perguntamos -, se este procedimento de um Pai é normal para um Filho, que é o próprio Deus encarnado. Dúvidas e mais dúvidas começam a surgir em tantos, que às vezes não as pronunciam por vergonha ou “para não terem problemas”. Mas isto talvez seja o dia-a-dia, e daí pregamos contra Pilatos ou Herodes.
Se fosse hoje que Jesus proclamasse o Evangelho em Portugal, talvez fosse preso, interrogado e sujeito a medidas de coação. No entanto não seria morto, mas pelo menos levaria o cúmulo jurídico: 24 anos de prisão. Mas se fosse em outro país onde a pena de morte está em vigor, seria essa a pena aplicável. A acusação era igual, as entidades oficiais e o povo, mesmo aquele que agora chora na semana santa, esses seriam os primeiros na condenação. Seria que a igreja – não a cristã, dado não existir ainda -, não o condenaria? Claro que sim, o processo histórico repete-se. Não com o dramatismo de então, mas outro bem mais profundo, que pode não atingir o corpo, mas a mente.
Penso que o mais importante não é a morte, mas a Ressurreição. Poderia morrer por velhice, que mesmo assim ressuscitaria, daria uma nova mensagem à humanidade. Se fosse hoje e aqui não teria pensão de velhice ou de invalidez, porque Ele era dos mais pobres dos pobres, a ressurreição seria a novidade. Por isso mesmo, cantamos um Jesus liberto da cruz e das dores, ou talvez Jesus açoitado pela fome e miséria, talvez um sem-abrigo e com os amigos e amigas a fugirem. Mas na Ressurreição está a liberdade, até da morte. A Ressurreição é a matriz da nossa Fé.