
Por Lino Maia
Com formação e experiência na educação de crianças antes de, nos anos 70, ser ordenado sacerdote o Padre Bernardino de Queirós Alves teve como sua primeira experiência pastoral a zona Ribeirinha do Porto, onde já tinha sido professor do ensino primário. Aí dinamizou um grupo de jovens cristãos que se dedicavam, sobretudo, à promoção de gestos de solidariedade local e internacional. Um desses jovens partiria como missionário leigo para a diocese de Nampula, em Moçambique. Outros se lhe seguiram em experiências missionárias, atravessando o Mediterrâneo, num intercâmbio de pessoas, de bens e de projetos de acolhimento em Portugal para a formação de técnicos e para tratamentos de saúde. Entretanto, por aqui a boa vontade da comunidade envolvente ia enchendo contentores de géneros que eram enviados, particularmente, para Angola.
E assim, na esperança de contribuir para um mundo de justiça, de paz e de amor, nascera o “Centro de Solidariedade Cristã Maranatha“, uma comunidade de jovens, com projetos de encontros internacionais.
Entre os pedidos de ajuda à comunidade, começaram também a aparecer crianças desfavorecidas, algumas delas oriundas de famílias destruturadas .e a viver num tecido social em crise, especialmente nos bairros sociais de Porto e Gaia. Para que estas crianças se encontrassem consigo mesmas nas suas capacidades e potencialidades e com os outros numa relação harmoniosa enquanto se abriam para um projeto de vida futura foi idealizada a “Tenda do Encontro”. Ali, em Sermonde, Gaia, onde já o Padre Bernardino tinha responsabilidades pastorais e tinha – e continua a ter – uma boa equipa colaboradora. A designação tem significado cristão e humano: acolher é dar o melhor que cada um tem e escutar o que de melhor tem o outro e estabelece-se uma tenda onde e quando é necessário numa caminhada libertadora. Ali, o acolhimento representa um encontro triplo: das crianças consigo próprias, com os outros e com a Natureza. O clima que ali se cria e o modo de acolher são o princípio de uma terapia: motivar e entusiasmar alguém para a escuta e o compromisso. No centro, Deus sintetiza a energia vital.
Também ali o Padre Bernardino fixou a sua residência, o que em muito contribuiu para uma boa relação com a comunidade que “adotou” a Tenda. Impossibilitado de atender aos inúmeros pedidos de acolhimento, junto dos seus paroquianos procurou famílias, já com filhos, que tivessem condições para receber as crianças. Por isso, alguns dos jovens desta casa, chegados de ambientes familiares precários, conheceram uma segunda família na comunidade e a ela se ligaram efetivamente. Hoje passeiam juntos ao fim de semana. E, desde então, a Tenda deixou de ser apenas um internamento de crianças e jovens para favorecer “encontros” de muitas pessoas: uns vão ali para praticar desporto, outros desenvolvem ali as suas atividades e alguns vêm ali fazer os seus encontros formativos…
Da “Tenda do Encontro”, que adotou uma máxima de Mahatma Gandhi, se pode dizer que é a “mudança que se quer num mundo melhor”…
Em tempo: num recente artigo sobre o Centro Social Paroquial de Santa Maria da Feira, neste espaço da Voz Portucalense, atribuí ao atual pároco a conceção e concretização do Centro quando, efetivamente, deveriam ser atribuídas ao anterior pároco, o saudoso Pe. Manuel Soares dos Reis. |