A celebração anual da Páscoa

Por S.D.L.

Estão a chegar os dias da Páscoa, a celebração principal dos mistérios da nossa salvação. No centro da solenidade está o Tríduo sagrado da morte, sepultura e ressurreição de Jesus (SextaFeira Santa, Sábado Santo e Domingo da Ressurreição). O tempo da Quaresma continua até à Quintafeira Santa, inclusive. Mas a Missa vespertina «na Ceia do Senhor» já inaugura o primeiro dia do Tríduo Sacro.

Impõe-se uma preparação cuidada em todos os aspetos das principais celebrações da Páscoa anual: Missa da Ceia do Senhor (QuintaFeira Santa), Celebração da Paixão (SextaFeira Santa) e Vigília Pascal (Domingo da Ressurreição). Onde for possível – pelo menos nas igrejas principais – deveria também celebrar-se o Ofício Divino: ao menos as Horas do Ofício de Leitura e Laudes em SextaFeira Santa e Sábado Santo. Não se excluem, antes se recomendam, outros exercícios de piedade, tradicionalmente relacionados com estes dias, como a Via Sacra em Sexta-Feira Santa. Porém, estas práticas de devoção devem harmonizar-se e subordinar-se às celebrações litúrgicas, não se propondo nunca como principais ou alternativas.

Assegurar uma celebração digna de tantas ações litúrgicas nem sempre é fácil, sobretudo nos lugares onde a dispersão provocada pelas férias de Páscoa priva as comunidades de alguns dos habituais colaboradores na animação litúrgica. Tanto mais se impõe a necessidade de uma programação e preparação séria. Será conveniente que as equipas litúrgicas e os responsáveis pela pastoral litúrgica em cada igreja elaborem um guião com a sequência de cada ação litúrgica, incluindo um rol das coisas necessárias. Assim, na celebração, tudo estará no seu lugar e cada qual saberá bem o que deve fazer, quando e como.

Um dos problemas que frequentemente se colocam é o das horas das celebrações. A Igreja propõe horas ideais, mas admite alguma flexibilidade. Assim, por exemplo, a celebração da Paixão, em Sexta-Feira Santa, deverá ser pelas 15 h da tarde, valorizando como «sinal celebrativo» a própria coincidência horária entre o acontecimento da morte de Jesus e a celebração. Porém, por razões pastorais, é admissível outra hora pastoralmente mais propícia, entre o meio-dia e as 21 h. Já em relação à Vigília, a mais importante de todas as celebrações da Páscoa anual, a flexibilidade do horário tem um limite muito preciso: não se pode começar antes de ser noite (após as 20h de 31 de março), nem terminar depois de ser dia (7h20 de 1 de abril).

Bem sabemos que nem todos cumprem esta norma da Igreja, antecipando a celebração da Vigília para as horas a que habitualmente se celebram as Missas vespertinas na tarde de sábado. Invocam-se razões «pastorais». Só que esta não é nem pode ser mais uma «missa vespertina». Aliás, está absolutamente proibida a celebração de missas vespertinas (ou outras) em Sábado Santo. O carácter noturno da celebração é uma característica da solenidade, que importa não desnaturar. Trata-se, até, duma exigência de verdade.

Que sentido e expressividade poderá ter o rito da luz em horas diurnas? E como cantar em pleno dia que «esta é a noite» de todas as maravilhas da salvação? Ou rezar a Deus que fez «resplandecer esta sacratíssima noite com a glória da ressurreição do Senhor»?

No caso (frequente) de sacerdotes com o encargo pastoral de mais do que uma comunidade cristã, há que aceitar com realismo os limites da situação. A Vigília pascal é, sem dúvida, a celebração mais exigente e empenhativa de todo o ano litúrgico. Por isso, o mais humano e razoável será agrupar várias comunidades numa só assembleia e, porventura, ir alternando o lugar da celebração de ano para ano.

Procuremos celebrar com verdade e fidelidade, em Igreja e com a Igreja que em cada Páscoa se rejuvenesce.

S.D.L.