Coreia do Norte: o que é verdadeiramente importante

Kim Jong-un e Donald Trump | Foto: REUTERS/KCNA

Por António José da Silva

Não de pode dizer que a notícia relativa à súbita mudança da política internacional da Coreia do Norte tenha sido completamente inesperada. Na verdade, os contornos de que se revestiu a participação do país nos recentes Jogos Olímpicos de Inverno, deram a perceber que o regime de Pyogyang parecia disposto a mostrar ao mundo uma nova face. Não foi apenas a decisão de participar nos Jogos, mas foi sobretudo o modo como essa participação se concretizou: desde a aceitação de que os seus atletas desfilassem com os representes da Coreia do Sul em algumas provas, até à escolha da influente irmã do seu presidente para chefiar a delegação do país aos Jogos.

Sem que nada o fizesse prever, a comunidade internacional pôde respirar de alívio, após muito tempo de preocupação e temor, face ao agravamento das tensões provocadas pelo desenvolvimento do programa nuclear em que o governo de Pyongyang se empenhou durante anos.

Hoje, muita gente se interroga acerca dos motivos desta aparente e súbita mudança. Como a História ensina, os verdadeiros motivos subjacentes às grandes decisões que mexem com a política internacional podem não ser facilmente detectáveis, mas neste caso parece legítimo adiantar alguns. E o primeiro é  que Kim Jong-un não tem nada a perder com esta mudança.

Antes de mais, porque ganha pontos na recuperação da sua imagem, tão denegrida no mundo ocidental, já que se pode apresentar agora como um homem verdadeiramente interessado em contribuir para o degelo das relações com o Ocidente e particularmente com os Estados Unidos. A segunda razão para explicar esta inesperada mudança, e talvez a mais importante, é que o presidente norte-coreano já alcançou os objetivos que pretendia com a sua política. Passou a faze parte do pequeno núcleo das potências nucleares e, além disso, já desenvolveu e experimentou os mísseis necessários para atingir os Estados Unidos. O presidente norte-coreano pode assim dar-se ao luxo de exibir agora a imagem de um líder pacifista.

Neste cenário, a outra grande surpresa que importa assinalar foi a rapidez com que Donald Trump aceitou o convite para se encontrar, já em Maio, com o líder norte- coreano. Ao contrário do que talvez pense, o presidente americano terá muito mais a perder do que a ganhar. Mas aquilo que é verdadeiramente importante é saber se o mundo ficará a ganhar.