O rico tesouro de Sant’Egídio

Por Rui Osório

O Papa Francisco foi, no passado domingo, à Basílica Santa Maria in Trastevere, em Roma, por ocasião dos 50 anos (1968-2017) da fundação da Comunidade de Sant’Egídio. Convidou-a a viver o 50.º aniversário não somente como uma celebração do passado, mas sobretudo como “alegre manifestação de responsabilidade pelo futuro”. Indica-lhe o caminho futuro: que este “aniversário cristão” não seja para fazer balanços, mas para transformar a fé em “nova audácia para o Evangelho”, “atravessando fronteiras e muros para reunir”.

“A audácia – sublinhou – não é a coragem de um dia, mas a paciência de uma missão quotidiana na cidade e no mundo. É a missão de tecer novamente o tecido humano das periferias, que a violência e o empobrecimento rasgaram; de comunicar o Evangelho por meio da amizade pessoal; demostrar como uma vida torna-se realmente humana quando é vivida ao lado dos mais pobres; de criar uma sociedade em que ninguém mais é estrangeiro. É a missão de atravessar as fronteiras e os muros para reunir”.

Hoje – exortou o Papa – “continuem a estar ao lado das crianças das periferias com as Escolas da Paz”, que eu visitei; continuem a estar ao lado dos idosos, às vezes descartados, mas para vós são amigos. Continuem a abrir novos corredores humanitários para os refugiados da guerra e da fome. Os pobres são o vosso tesouro”.

Nestes 50 anos, o mundo tornou-se “global”, mas se a economia e as comunicações foram unificadas, para muitos, especialmente para os pobres, levantaram-se novos muros, e as suas diferenças são motivos para hostilidade.

“Ainda está para ser construída uma globalização da solidariedade e do espírito. O futuro do mundo global é viver juntos: este ideal requer o compromisso de construir pontes, manter aberto o diálogo, continuar a encontrar-se. Não é somente um fato político ou organizativo. Cada um é chamado a mudar o próprio coração, assumindo um olhar misericordioso pelo outro, para torna-se construtor de paz e profeta de misericórdia”.

A Comunidade de Sant’Egídio foi fundada por Andrea Riccardi e é reconhecida como “a pequena ONU do Trastevere” pela dedicação aos pobres. Movimenta mais de 60 mil pessoas em mais de 70 países de vários continentes, incluindo Portugal (Lisboa e Porto).

A oração, a comunicação do Evangelho, a solidariedade para com os pobres, o ecumenismo e o diálogo são os princípios de Sant’Egídio, objetivos inspirados nas orientações teológicas e pastorais do Concílio Vaticano II. A amizade com os pobres começou com as crianças, mas depressa se alargou às pessoas sem abrigo, aos deficientes físicos e mentais, aos emigrantes, aos doentes terminais, às pessoas em cadeias, em institutos e em campos de refugiados. E também à arbitragem de conflitos como em Moçambique entre a Frelimo e a Renamo.

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