D. Manuel Vieira Pinto: a homenagem de Nampula numa carta emocionada

Nas celebração exequial de D. Manuel Vieira Pinto, falecido a 30 de abril com 96 anos de idade e que teve lugar na Igreja de S. Gonçalo em Amarante, também esteve presente Nampula (Moçambique). Aquela cidade e diocese não esquecem o seu arcebispo. Os moçambicanos fizeram-se presentes através de uma carta que foi lida pelo padre José Manuel Ferreira, pároco de Amarante.

Nessa celebração esteve presente a família de D. Manuel Vieira Pinto. Foi entregue cópia da carta ao irmão do arcebispo emérito de Nampula. O corpo foi a sepultar em jazigo de família em Aboim, Amarante. A carta vinda de Nampula foi assinada pelo presidente do Município, Paulo Vahanle.

“Agradecemos ao Deus Pai por ter trazido Dom Manuel Vieira Pinto, com o seu coração aberto salvou muitos servos” – esta frase foi entoada também em dialeto local fazendo ainda mais próxima a homenagem do povo de Nampula.

Nesta mensagem foi recordado o percurso do arcebispo de Nampula como defensor da liberdade, dos direitos humanos. Destaque especial para as cartas pastorais onde D. Manuel Vieira Pinto revelou “o seu firme posicionamento em defesa dos direitos das populações autóctones, a condenação do colonialismo e da guerra colonial, a defesa do direito à autodeterminação do povo moçambicano” – pode-se ler na missiva enviada de Nampula.

O presidente Paulo Vahanle assinala que esse posicionamento corajoso do arcebispo Vieira Pinto valeu-lhe a “expulsão de Moçambique, a 14 de abril de 1974”. Um período fora de Nampula que, com a revolução dos cravos em Portugal, permitiu-lhe o regresso à diocese, tendo passado a ser Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique em janeiro de 1975.

Com o conflito que eclodiu no país entre a Frelimo e a Renamo, Paulo Vahanle refere na sua carta que D. Manuel Vieira Pinto “lutou por todos os meios ao seu alcance pelo fim da guerra civil”.

“Nunca estamos preparados para perder alguém que amamos” – sublinha o presidente Vahanle apresentando sentidas condolências “à família” e “à Igreja Católica” e assinalando que “Dom Manuel continua a viver na memória e nos corações” dos moçambicanos.

D. Manuel Vieira Pinto nasceu em Aboim, Amarante, a 9 de dezembro de 1923, tendo sido ordenado presbítero na Catedral do Porto em 1949 por D. Agostinho de Jesus e Sousa. O contacto com o “Movimento Por um Mundo Melhor“, em Roma, amadureceu-lhe convicções e orientou-lhe dinamismos. Promoveu cursos de formação e conferências em Portugal, tendo enchido o Pavilhão dos Desportos em Lisboa e o Palácio de Cristal no Porto.

Foi nomeado bispo de Nampula em 1967 e arcebispo a 4 de junho de 1984. Assumiu posições antifascistas, criticou o colonialismo e foi perseguido pela polícia política, a PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado.

Após a independência condenou os campos de reeducação e alertou para os abusos da guerra civil entre a Frelimo e a Renamo. Procurou sempre lançar pontes de diálogo. Em 1992 foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa Mário Soares com a Ordem da Liberdade. Resignou no ano 2000 aos 76 anos de idade. Regressou à sua terra natal e mais tarde foi viver para a Casa Sacerdotal do Porto onde viria a falecer a 30 de abril de 2020.

Exerceu o seu múnus episcopal em Moçambique em nome da liberdade e dos direitos humanos. Os moçambicanos nunca o esquecerão.

RS