Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor

Foto: Rui Saraiva

12 de Abril de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura dos Actos dos Apóstolos                                                           Actos 10, 34a.37-43

«Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos».

 

Salmo Responsorial                                                                                Salmo 117 (118)

Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses                  Col 3, 1-4

«Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus».

 

Aclamação ao Evangelho           1 Cor 5, 7b-8a

Aleluia.

Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado:

celebremos a festa do Senhor.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                Jo 20, 1-9

«Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro».

«Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos».

 

Viver a Palavra

«No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro».

Maria Madalena sai de casa muito cedo, ainda escuro no céu e, mais ainda, no seu coração. Ela dirige-se ao sepulcro Daquele que lhe ofereceu uma vida nova e uma possibilidade renovada de escrever a sua existência quando a libertou dos seus «sete demónios» (Mc 16,9). Ao contrário das narrativas de Marcos e de Lucas que indicam que as mulheres que se dirigem ao sepulcro levam perfumes e aromas, seguindo assim as tradições funerárias próprias da sua cultura, nesta narrativa, Maria Madalena nada leva consigo. No crepúsculo daquela jornada que marcará indelevelmente o curso da história, ela dirige-se ao sepulcro, transportando apenas a história de libertação e de vida que o crucificado lhe ofereceu quando outrora a acolheu e renovou no seu coração a esperança e a confiança. Ela acorre ao sepulcro levando no seu coração a certeza que escreve Gabriel Marcel: «amar é dizer: tu não morrerás!». Como pode morrer Aquele que lhe ofereceu um horizonte novo de vida? Como pode estar ausente Aquele cuja presença transformou o seu coração e a sua história?

Também nós, como Maria Madalena, sentimos as trevas da noite e as sombras que invadem este período tão delicado da história: «densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos» (Papa Francisco, Momento extraordinário de oração em Tempo de Pandemia).

Contudo, abeiramo-nos da Páscoa do Senhor como Maria Madalena do sepulcro e, se caminhamos ainda no escuro da noite, levamos connosco a história de ressurreição e de vida que o Ressuscitado inscreve na nossa existência. Não podemos deixar que as trevas e sombras deste momento ímpar da nossa história impeçam de fazer ecoar no tempo e na história a certeza de que o sepulcro vazio é anúncio de vida nova. Tão vazio mas tão cheio de sinais, aquele sepulcro anuncia que um tempo novo se abre diante da humanidade porque a morte e o pecado foram vencidos pela força transformadora do amor.

Cristo ressuscitou e a Sua ressurreição enche de esperança a nossa vida e a nossa história. Cristo crucificado atravessando o limiar da dor e do sofrimento, ensina-nos que as trevas e a dor não têm mais a última palavra. Como recorda Luigi Maria Epicoco: «não somos chamados à Cruz, mas à Ressurreição, tal como uma mãe não é chamada às dores, mas ao parto». Somos chamados à ressurreição e à vida e ainda que o sofrimento e a dor possam integrar a nossa existência, e, por isso, caminhamos animados pela certeza que cantamos no Salmo: «este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria».

Cantemos de alegria porque o Senhor ressuscitou, renovemos no nosso coração a confiança e a esperança porque Ele está vivo e caminha connosco. Como nos exorta S. Paulo: «se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra». De olhos postos no céu, caminhando com os pés bem assentes na terra, atravessamos os trilhos da história na certeza que Cristo está vivo e que a Sua ressurreição continuará a fazer irromper nas sombras e trevas deste mundo a certeza da mais bela e luminosa Primavera.

 

Homiliário patrístico

Da Homilia pascal de um Autor antigo

Deste modo, a paixão do Salvador é a salvação da vida humana. Precisamente para isso quis Ele morrer por nós, a fim de que nós, acreditando n’Ele, vivamos para sempre.

Nesta solenidade os novos filhos que são gerados nas águas vivificantes da santa Igreja, com a simplicidade de crianças recém-nascidas, fazem ouvir as vozes da sua consciência inocente; nesta solenidade, os pais e mães cristãos obtêm, por meio da fé, uma nova e inumerável descendência.

Nesta solenidade, brilha o esplendor dos círios, sob a árvore da fé, com o fulgor que irradia da imaculada fonte baptismal; nesta solenidade, desce do Céu o dom da graça que santifica os recém-nascidos e o sacramento espiritual do mistério admirável que os alimenta.

Nesta solenidade, a assembleia dos fiéis, alimentada no regaço maternal da santa Igreja, formando um só povo e uma só família, adorando a Unidade da natureza divina e o nome da Trindade omnipotente, entoa com o Profeta o salmo da grande festa anual: Este é o dia que o Senhor fez; exultemos e cantemos de alegria.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. A pandemia que estamos a atravessar e a impossibilidade de nos reunirmos comunitariamente para celebrar o Tríduo Pascal e as festividades da Páscoa não nos podem impedir de celebrar jubilosamente a certeza de que o amor de Deus vence as trevas deste mundo e nos aponta um horizonte de ressurreição e de vida. Deste modo, além da possibilidade de participar através dos diferentes meios digitais e de comunicação nas diversas celebrações da Páscoa, cada família deve procurar viver este Tríduo Pascal intensificando a vida de oração familiar a partir da Liturgia da Palavra e da simbologia de cada um destes dias. Em Quinta-feira Santa, pode ler-se o texto evangélico desse dia e em ceia festiva recordar aquela outra ceia em que Jesus reunido com os doze lhes confiou o mandamento novo do amor e o mandato de celebrar a Eucaristia. Em Sexta-feira Santa, escutando o texto da Paixão, pode fazer-se uma adoração da Cruz em família. No Domingo de Páscoa, na impossibilidade de receber o compasso pascal ou de visitar os familiares e amigos para partilhar a alegria da Páscoa poderemos usar os mais diversos meios – como as redes sociais, o telefone, a decoração das nossas varandas ou janelas – para fazer ecoar neste dia a certeza de que a Ressurreição de Jesus é anúncio jubiloso de esperança nestes tempos conturbados em que vivemos.
  2. Para os leitores: a primeira leitura é marcada por um longo discurso de Pedro anunciando a ressurreição de Jesus. A proclamação desta leitura deve ter em atenção as longas frases com diversas orações que exigem um especial cuidado na respiração e nas pausas. A brevidade da segunda leitura, tirada da Carta aos Colossenses, não deve diminuir o cuidado na sua preparação. A ressurreição de Cristo é fonte de transformação da vida dos fiéis. Deste modo, a proclamação desta leitura deve ser marcada pelo tom exortativo, valorizando as formas verbais no imperativo: «aspirai» e «afeiçoai-vos».

 

Sugestões de cânticos

Entrada: O Senhor ressuscitou – A. Cartageno (CN 743); Rito de aspersão: Fomos resgatados pelo Sangue – Az. Oliveira (CN 496); Salmo Responsorial: Eis o dia que fez o Senhor (Sl 117) – F. Santos (BML 36); Sequência: Victimae Paschali Laudes – Mel. gregoriana (CN 39); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Cristo nossa Páscoa foi imolado – F. Santos (BML 26); Ofertório: Ò Páscoa gloriosa – F. Santos (CN 695); Comunhão: Oh nova Páscoa! – F. Santos (CN 761); Às bodas do Cordeiro – M. Luís (CN 220); Pós-Comunhão: Regina Coeli – Mel. gregoriana (CN 857); Final: Na sua dor os homens – Ressuscitou, ressuscitou. Aleluia! – A. Cartageno (CN 864).