A Turquia, a Grécia, e os refugiados

Nos últimos tempos, a Comunicação Social tem dado relevo ao aumento da tensão na fronteira entre a Turquia e a Grécia, por via do afluxo constante de refugiados que procuram chegar à Europa. É certo que o problema dos refugiados diz respeito a toda a comunidade internacional, mas afecta particularmente algumas regiões do mundo. Falamos de países, onde, por motivos diversos – políticos, sociais, económicos ou religiosos – são muitos aqueles que procuram encontrar um novo lugar para viver com o mínimo de dignidade e de esperança. Mas falamos também dos países ou das regiões que estão na mira de todos eles, entre outros motivos, por serem ou parecerem de acesso mais fácil.

Entre os países que exportam refugiados, devemos referir antes de mais a Síria, a “amada Síria” na expressão do Papa Francisco. O seu povo é a grande vítima da governação exercida pela autocracia familiar dos Assad que contam com o apoio da Federação Russa, sempre fiel a uma aliança que lhe garante um papel fulcral no Médio Oriente. Por estas e outras razões, o povo sírio sofre as consequências de uma guerra que dura há anos e que já fez milhares de mortos e alguns milhões de deslocados. No seu caminho para um novo mundo, esses deslocados passam quase necessariamente pela Turquia que lhes abriu as portas, pelo menos enquanto foi recebendo da União Europeia apoio financeiro para esta “política humanitária”. Percebendo, no entanto, que esse apoio financeiro está em risco, a Turquia terá começado a empurrar esses desalocados para a Grécia, que se viu assim perante um desafio enorme e inesperado. De um momento para outro, as relações entre a Turquia e a Grécia deterioraram-se gravemente com acusações mútuas sobre a responsabilidade de cada um dos dois países neste novo drama humanitário.

Neste cenário, é oportuno recorrer à História, e esta lembra-nos que as relações entre gregos e turcos nem sempre foram fáceis, bem pelo contrário. Surpreendentemente, ambos os estados fazem parte da NATO desde 1952, mas não é preciso recuar muito no tempo para nos darmos conta das quatro guerras que os dois países travaram entre si, a última das quais em 1952. Em 1974, as relações entre os dois países conheceram o seu período mais crítico dos últimos anos, quando a Turquia invadiu o Chipre para ocupar o norte da ilha e aí criar um estado que ninguém reconheceu até hoje. O certo é que, nos tempos que correm, as relações entre gregos e turcos voltaram a agravar-se, e tudo indica que serão os refugiados a pagar a fatura.