Ciências naturais e fé cristã (28) Ciências naturais e a evidência de Deus (III)

Um segundo sinal que as ciências naturais podem dar a um teólogo – não para fazer teologia nem daquelas, nem de tal sinal – para um possível discurso a respeito da realidade de Deus, tem a ver com o “princípio antrópico”, por mim contactado pela primeira vez numa das imensamente saudosas aulas lecionadas por Dom António Marto.

Por Alexandre Freire Duarte

Pois bem: tal princípio, ampliando-o eu a vertentes que o seu proponente inicial (Brandon Carter, na década de 1970) não imaginaria, aduz dois factos. Em primeiro lugar, que as ciências naturais não conseguem, se forem honestas quanto ao seu horizonte de competências, dizer a razão de existir algo em vez de nada. Depois, que se deve admitir que, quer as leis da natureza, quer as quantidades físicas e químicas de elementos existentes no Universo (assim como as equações matemáticas que estão na base daquelas leis e destas quantidades) devem ser exatamente como são, não só para poder existir tal Universo, como, contra todo um encadeamento de probabilidades estatísticas virtualmente iguais a zero, surgirem, naquele, seres inteligentes e conscientes como o ser humano.

Falei, há instantes, de probabilidades estatísticas quase que nulas. Aponto apenas quatro exemplos entre muitos outros possíveis. A força expansiva do “Big Bang” precisa de estar ajustada à força da gravidade, sendo a probabilidade de isto ocorrer é de zero virgula 60 zeros, seguidos, finalmente, de um 1. A força que agrega as partículas do núcleo dos átomos precisa de estar acomodada com a força que rege a interacção de partículas sub-atómicas no processo de decomposição de tais átomos, e a probabilidade de isto suceder é de zero virgula 80 zeros, sucedidos, por fim de um 1. O número de partículas sub-atómicas positivas e negativas tem que ser rigorosamente equilibrado, e a probabilidade disto ocorrer é de zero virgula 40 zeros, seguidos, só então, de um 1. Enfim, a probabilidade de as constantes físicas do Universo terem surgido aleatoriamente é de zero virgula 220 zeros, acrescidos, só depois dessa avalanche de zeros, de um 1.

Não há dúvida alguma que as coincidências existem (como eu ter conhecido uma pessoa incrivelmente maravilhosa que agora é minha esposa) e muitos limitam-se a encolher os ombros sem pararem para contemplar a magnitude do que escolhem ignorar. Seja.

No entanto, limito-me aqui e mais uma vez, a formular uma pergunta: não será que tal suceder em cadeia de coincidências improbabilíssimas (em que cada elo, juntando-se ao precedente, apenas incrementa a improbabilidade de uma mera casualidade) aponta para a possibilidade de que haja uma ordem inscrita, consciente e voluntariamente, no Universo para, com o tempo, surgirem seres capazes de conhecerem o seu Planeador?