“A verdade sai da boca das crianças”

Em fim de ano letivo…Homenagem a professores e alunos.

Por João Alves Dias

Em 30 de abril, na Universidade de Aveiro, realizou-se a final do concurso “diz4” para alunos do 3º e 4º ano, com a participação de mais de quinhentos pares, apurados em provas realizadas em agrupamentos de escolas de todo o país.

Quando perguntaram a um dos meninos da equipa que ficou em 2º lugar – a primeira do 3º ano – o que quer ser quando for grande, respondeu: “Quero ser neurocientista para saber como funciona o cérebro para ajudar a humanidade e salvar muitas pessoas”.

Esta resposta duma criança (cf. Mt 21,14-16) fez-me recordar a fábula dos “quatro brâmanes” a quem o mestre dizia: – “Meus filhos, qualquer um pode ser instruído mas a instrução de nada lhe valerá se não a usar sabiamente”.

Três dos brâmanes orgulhavam-se dos seus dons e troçavam do mais novito que ainda não adquirira nenhum mas sempre ouvia o mestre: – “Bom senso é quando pensamos antes de agir”.

Um dia, os três mais velhos resolveram partir em busca de novos conhecimentos e, por compaixão, convidaram o mais novo. Na despedida, o mestre relembrou-lhes: – “O homem sábio pensa sempre antes de agir”.

Partiram. Na floresta, ao ver os ossos dum leão, o primeiro, ufano, ordenou-lhes que refizessem o esqueleto. Então, o segundo ripostou: – “ O meu poder é maior. Vou dar carne ao esqueleto”. E surgiu um leão com olhos, juba, dentes, mas morto. O terceiro exclamou: -“Eu sou o maior! Vou dar vida a este leão”. O brâmane mais novo bem protestou. Como os outros não lhe ligaram, subiu para uma árvore. Então, o terceiro deu a ordem e logo o leão abrindo os olhos, soltou um rugido medonho, atacou-os e comeu-os. O mais novo comentou: -“Vocês tinham muitos dons mas faltou-vos o bom senso”.

O JN, em 12 de dezembro, publicou uma notícia que me fez refletir sobre o bom senso e a responsabilidade dos cientistas. Poderão esquecer-se de que o fim último de toda a atividade humana é o bem da Humanidade? Não terão de se interrogar sobre os possíveis efeitos negativos das suas descobertas? Quem lhes pede responsabilidades? Gozam dum poder absoluto? Será que, como afirmava Heidegger, “a ciência não pensa”?

Noticiava que um “cientista chinês revelou ter ajudado a criar os primeiros dois bebés com genes modificados. A falta de consentimento de qualquer comissão de ética é uma das razões que levam à condenação massiva da alegada modificação”. A manipulação genética pode “pôr em causa o equilíbrio funcional existente no nosso ADN e criar problemas muito graves”. É crime contra a humanidade.

Sabemos como Einstein – cujas descobertas tornaram possível a produção da bomba atómica – se sentiu profundamente transtornado com as bombas de Hiroshima e Nagasaki…

Aonde nos levará o conhecimento sem bom senso? E a ciência sem ética?

Precisamos de cientistas que sejam também sábios… E a “Escola Primária” é o seu berço.