“As pessoas são o essencial”, diz D. António Augusto, novo bispo de Vila Real

Foto: João Lopes Cardoso

Em entrevista à VP o novo bispo de Vila Real revela a sua gratidão ao Papa por esta nomeação, saúda a sua nova diocese e recorda o Porto onde cresceu “como cristão, seminarista, padre” e serviu depois como bispo auxiliar.

Entrevista conduzida por Rui Saraiva

Com data de sábado dia 11 de maio de 2019, o Papa Francisco nomeou, D. António Augusto Azevedo, como novo bispo da diocese de Vila Real sucedendo a D. Amândio Tomás. Tendo sido nomeado bispo auxiliar do Porto a 9 de janeiro de 2016 com ordenação celebrada a 19 de março desse mesmo ano, D. António Augusto abraça agora a missão de servir a diocese de Vila Real como bispo titular. Em entrevista à VP revela a sua gratidão ao Papa por esta nomeação, saúda a sua nova diocese e recorda o Porto onde cresceu “como cristão, seminarista, padre” e serviu depois como “bispo auxiliar”.

P: Quais são as suas primeiras palavras para a diocese que o vai acolher, a diocese de Vila Real?

R: Naturalmente, a primeira palavra é de saudação à nova diocese que o Papa Francisco me confiou. Portanto, o primeiro sentimento é de gratidão ao Papa, porque quando confia uma diocese, uma porção do Povo de Deus a um bispo, é porque entenderá que é a pessoa que melhor pode acompanhar e caminhar com esse Povo. A minha gratidão pela prova de confiança com esta nomeação e em segundo lugar manifestar a minha alegria por poder servir o Povo de Deus da diocese de Vila Real para onde me vou dirigir com muita expetativa e com muita vontade de poder contribuir para que este Povo de Deus, que são todos, seremos todos, possa caminhar e responder aos desafios que estes tempos requerem.

P: É uma diocese que conhece bem visto que muitos sacerdotes foram formados aqui no Seminário Maior do Porto, do qual foi Reitor. Isso será uma vantagem?

R: Sim, há esta feliz coincidência desta colaboração que já tem, julgo, 40 anos, entre a diocese de Vila Real e a diocese do Porto num contexto formativo. Várias gerações de padres, de Vila Real, dos últimos anos, foram formados na diocese do Porto. E isso, naturalmente, significa uma grande afinidade, uma grande proximidade, um grande conhecimento pessoal que me permite ter já um conhecimento de uma boa parte do clero, sobretudo das gerações mais jovens. Certamente isso é uma vantagem porque estimo as pessoas, conheço as pessoas e reconheço o seu valor, bem como dos outros sacerdotes mais velhos. E também dos leigos e das instituições ligadas à Igreja. Há uma boa base humana importante para se fazer um bom trabalho, porque as pessoas são o essencial.

P: Diocese onde chega, diocese que deixa! Que saudação à diocese do Porto, que mensagem neste momento que é de partida, depois de tantos anos nesta sua diocese do Porto?

R: Em relação à diocese do Porto é também uma palava de agradecimento, é a minha família, a diocese onde cresci como cristão, seminarista, padre e depois chamado a servir como bispo auxiliar. A palava é de gratidão para toda a diocese, pelos bispos vários que fui conhecendo e com quem me relacionei e para o presbitério que conheço muito bem e a quem estou unido por laços fraternos. E também os leigos, os movimentos que servi, paróquias e tantas realidades eclesiais que tornam esta diocese tão rica e tão especial.
Mas não é propriamente uma palavra de despedida porque na Igreja há várias realidades que vão caminhando, várias comunidades e igrejas locais que são irmãs e que se vão entreajudando. Julgo que a diocese do Porto também terá condições para continuar o seu caminho.

P: Quer fazer um balanço destes anos em que esteve como bispo auxiliar do Porto, trabalhando, em particular, com uma região pastoral e com o senhor D. António Francisco que o ordenou e agora com o senhor D. Manuel Linda?

R: Ainda é difícil fazer balanços até porque o tempo foi bastante curto. Obviamente, que é um balanço muito positivo. Desde logo, porque foram três anos muito intensos em termos de trabalho e de preocupações. Evidentemente, com fases muito diversas. Os primeiros meses em que acumulei com o cargo de Reitor do Seminário foram meses de muito trabalho. Depois um primeiro ano muito bonito com o senhor D. António Francisco que em todos nós deixou grande saudade e que, entre muitas outras coisas, era uma pessoa muito próxima, de uma relação humana muito forte. Foi um ano de muitos sonhos e projetos que culminou de forma muito significativa com a Peregrinação Diocesana a Fátima que foi um dos momentos marcantes destes últimos anos. E depois tragicamente seguido pela sua morte inesperada.

O segundo ano foi no período de transição no qual colaborei com o senhor D. António Taipa, a quem me ligam laços muito fortes. Este ano mais recente com o senhor D. Manuel Linda foi um ano de adaptação a uma nova perspetiva.
Sobretudo, foi muito gratificante a colaboração com uma região que eu aprecio muito que é a região Sul, com imenso potencial, com projetos muito bonitos. Portanto, para mim foi muito gratificante trabalhar com os padres, as vigararias, o clero e também os leigos dessa zona.

P: Um dos seus últimos trabalhos foi de projeção nacional e internacional: o Sínodo dos Bispos sobre os jovens. Foi padre sinodal e isso vai-lhe trazer uma experiência para assumir agora este trabalho como bispo de Vila Real sobretudo no trabalho com os jovens. O que é que tem a dizer em relação a isto?

R: Eu diria que é uma vantagem na medida em que tive de entrar mais a fundo na realidade dos jovens. Mas, é também uma responsabilidade. Isto é, o Papa aos padres sinodais incumbiu a especial missão de fazermos um esforço pela aplicação do Sínodo. Para mim, a experiência do Sínodo foi muito rica porque permite uma leitura muito mais alargada e profunda da vida da Igreja e desperta em nós uma vontade de servir a Igreja não apenas pensando na nossa realidade local. A missão da Igreja hoje tem de ter este horizonte mais alargado e aberto ao mundo. Esta experiência será, com certeza, muito útil para a minha nova missão.

A preocupação com os mais jovens será certamente uma preocupação na nova diocese, mas também, uma preocupação em trabalhar com os jovens de todo o país. Até porque nós estamos todos envolvidos na preparação das Jornadas Mundiais da Juventude e é muito importante mobilizar a Igreja em todo o país para que esta seja uma grande oportunidade de renovação da Igreja pela participação mais ativa dos jovens.

D. António Augusto nasceu a 14 de junho de 1962 em S. Pedro de Avioso no concelho da Maia e foi ordenado presbítero a 13 de julho de 1986 na Catedral do Porto.

Nos dois primeiros anos de sacerdócio foi Vigário Paroquial de Santo Tirso (1986-1988), assumindo função de Capelão Militar na Força Aérea em 1988. Torna-se Conselheiro Espiritual das Equipas de Nossa Senhora em 1989.

De 1990 a 2000 ocupou as funções de Pároco de Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia, acumulando este múnus com a Assistência da Pastoral Operária do Porto (LOC e JOC), de 1998 a 2000.

Foi docente na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa desde 2003, tornando-se em simultâneo Prefeito e Professor no Seminário Maior do Porto.

Exerceu o cargo Juiz do Tribunal Eclesiástico do Porto desde 2004, ano em que assumiu a Capelania do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa (2004-2012). Em 2005 assumiu o serviço de Assistente Diocesano do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM).

Foi nomeado Reitor do Seminário Maior do Porto em 2012 e responsável pelo acompanhamento dos Padres Novos em 2015.

Foi nomeado bispo auxiliar do Porto pelo Papa Francisco a 9 de janeiro de 2016 e foi ordenado bispo a 19 de março desse mesmo ano. Como bispo auxiliar do Porto (2016-2019) assumiu o acompanhamento pastoral da região Sul e foi o responsável pela Peregrinação Diocesana a Fátima em setembro de 2017.