África: a queda de mais um dinossauro

Ainda não há muito, milhares de argelinos festejaram nas ruas o fim dos  vinte anos de governação de Abdelaziz Bouteflika. Há poucos dias, numa espécie de recuperação da falhada primavera árabe, a comunidade internacional tomou conhecimento da queda de mais um dinossauro da política africana.

Por António José da Silva

Falamos de Omar al Bashir, o homem que vinha governando o Sudão com mão de ferro, desde 1989. Se a estes dois nomes juntarmos os de Robert Mugabe e Muamar Kadhafi, podemos dizer que este parece não ser o tempo mais favorável para os ditadores africanos. No entanto, dizer isto não significa que não restem ainda, naquele continente, mais alguns exemplares deste tipo de líderança.

O Sudão tornou-se um país independente em 1956. Tinha então uma superfície de mais de dois milhões e meio de quilómetros quadrados, a maior do mundo, mas uma população que estava longe de corresponder a estes números: menos de quarenta milhões de habitantes. A sua história recente está profundamente e tragicamente marcada pelo regime militar e ditatorial de Al Bashir, um muçulmano defensor da aplicação da “charia”, e que já foi repetidamente condenado pela opinião pública internacional, ou não estivesse iá indiciado por crimes contra Humanidade. Estes terão sido cometidos, sobretudo mas não só, por alturas da guerra civil travada entre o Norte muçulmano e o Sul cristão e animista, uma guerra civil que fez centenas de milhares de mortos e de refugiados, e que deu origem a um novo estado: o Sudão do Sul. A esta guerra deve juntar-se ainda um outro conflito trágico: o que teve lugar na província do Darfour.

As gravíssimas acusações â sua repetida violação dos direitos humanos, e ainda  à sua responsabilidade na corrupção generalizada que há muito vem corroendo a vida social e económica do Sudão, acabaram por destruir a sua imagem a nível interno e externo, num processo que terminou agora com a sua recente destituição, ordenada pelos militares que ele controlou durante muitos anos.

Hoje, a grande dúvida que se levanta, na sequência dessa destituição, está em saber se a queda de Al Bashir significa o fim do regime político que ele implantou no Sudão. Há muita gente que não acredita, tendo em conta algumas das medidas já anunciadas pelos seus antigos companheiros ainda no poder. Para já, são compreensíveis as manifestações de júbilo dos milhares de sudaneses que festejaram nas ruas a queda de mais um ditador africano, mas poucos acreditam que aquele país possa encontrar rapidamente uma via democrática para construir o seu futuro.