A unidade do Tríduo Pascal

Se olharmos para as balizas estabelecidas nos livros litúrgicos, o Tríduo Sacratíssimo da Páscoa tem uma inauguração sacramental na Missa da Ceia do Senhor.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Com alguma analogia diríamos que, do mesmo modo que as primeiras vésperas, celebradas na tarde de sábado, já pertencem à liturgia dominical assim também a Missa da Ceia do Senhor é a abertura do Tríduo. Na verdade, a Eucaristia é sempre a páscoa sacramental da Igreja. E a anamnese do mistério pascal, em cada celebração eucarística, é sempre precedida da narração da Ceia em que, na véspera da Sua Paixão, o Senhor Jesus antecipou o sentido redentor da sua paixão, morte e ressurreição fazendo da sua páscoa um ato de liberdade que vence a traição com a sua oferenda livre e soberana.

Declaram as rubricas que, na Sexta-Feira Santa e no Sábado Santo, não é permitida a celebração da Eucaristia. A este propósito, tenha-se em conta que a Eucaristia da Vigília Pascal, mesmo que termine antes das 24 h de sábado, já é «a missa pascal do Domingo da ressurreição». Segundo o modo de falar das Igrejas do Oriente, para as quais a Eucaristia é a «Liturgia» por antonomásia, Sexta-Feira Santa e no Sábado Santo são dias «alitúrgicos».

Nesses dias, a única «Liturgia» lícita, é a Celebração da Paixão, a oração da Igreja – a «Liturgia das Horas» – e, onde houver iniciação cristã, a celebração dos Ritos Pré-batismais. Continua, também, a haver lugar para os Sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos que, por serem «de cura», não têm exclusões de calendário, prevalecendo a lei suprema que é a da «salvação das almas». Nada mais, para viver o Máximo!

Em Sexta-Feira Santa, fora da Celebração da Paixão, a Comunhão eucarística só pode ser distribuída aos doentes. E no Sábado Santo, a Comunhão eucarística só pode ser distribuída aos moribundos, como viático. Não é dia para os Ministros Extraordinários da Comunhão levarem a Eucaristia aos enfermos! Esta é a expressão mais radical do «jejum festivo» que caracteriza estes dias. A «mesa» nem sequer é posta. Após a celebração da Missa da Ceia do Senhor são retiradas as toalhas do altar. A rubrica de Sexta-Feira Santa anota: «o altar deve estar totalmente despido: sem cruz, sem candelabros, sem toalhas»; e a rubrica de Sábado Santo insiste: «A Igreja abstém-se do sacrifício da Missa (a mesa sagrada continua despida) até ao momento em que, depois da solene Vigília ou expectativa noturna da ressurreição, se dará lugar à alegria pascal, que na sua plenitude se prolonga por cinquenta dias».

Neste jejum apenas se abre um parêntesis para a Comunhão em Sexta-Feira Santa com os dons «pré-santificados»: após a adoração da Cruz, estende-se a toalha no altar e nele se colocam os vasos sagrados com o Corpo do Senhor consagrado na Eucaristia do dia precedente e, após a oração do Pai-Nosso, o Sacerdote e os fiéis comungam. «Terminada a distribuição da comunhão, o diácono ou um ministro idóneo leva a píxide para o lugar previamente preparado fora da igreja» (Missal Romano). E o altar volta a ser desnudado após a celebração.

Não é por esquecimento que nas rubricas se omite o beijo ao altar tanto na Ação Litúrgica de Sexta-Feira Santa (no início e no final) como na Vigília Pascal, quando a procissão do lucernário chega ao presbitério. Ainda que, por razões práticas, o altar já esteja adornado desde o início da celebração, entretanto ainda não chegou a sua hora: só ao canto do Gloria a Deus nas alturas é que serão acesas as suas luzes e se prepara a Mesa para o banquete pascal, enquanto retinem as campainhas, repicam os sinos.

A não celebração dos sacramentos é em si mesma “sacramental”: é a forma mais litúrgica que a Igreja encontrou para reviver, celebrando-o, o memorial anual da Páscoa. É a hora em que o “acontecimento” prevalece sobre o rito. E todo o tríduo pascal vive desta projeção para o seu termo – na grande vigília – em que a Palavra recapitula toda a História da Salvação e esta se “verifica” (se demonstra “verdadeira” e atual) e se consuma nos sacramentos pascais: Batismo, Confirmação e Eucaristia, com os quais se gera e regenera continuamente o tecido da própria Igreja, «admirável Sacramento” que jorra da Páscoa.