“Panamá in Douro”. Vigília de Oração: Caminhai e cantai

O apelo do Bispo do Porto, na Vigília de Oração do Panamá in Douro.

Era um ambiente de profundo silêncio, o daquele sábado, no alvor do dia do Senhor, tocado pela beleza da arte, nas suas diversas expressões e linguagens: silêncio, música, dança, magia, que permearam e acompanharam a proclamação de sete leituras, a evocar o caminho de Maria, desde a sua presença no seio da comunidade cristã nascente, relatada pelo livro dos Atos dos Apóstolos, até ao momento inicial da Anunciação, magnificamente encenada por um Anjo que descia do Céu enquanto o coro cantava: Faça-se em Mim segundo a Tua Palavra, o lema da Jornada Mundial da Juventude.

Na sua breve meditação, Dom Manuel Linda citou o Papa Francisco, na sua Homilia, por ocasião da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, no passado dia 12 de dezembro, resumindo toda a sua vida neste compasso binário: caminhar e cantar.

O que carateriza e marca a vida de Nossa Senhora, que não viveu para si mas para os outros, não é o facto de ter elaborado grandes planos pastorais ou de ter frequentado uma escola de teologia, mas uma vida que se pautou por estas duas atitudes: caminhar e cantar”. Disse.

Maria continua a caminhar connosco

E desenvolveu algumas estações deste caminho de Maria: “caminhou até Belém para o nascimento do Filho e daí se pôs em fuga, com José e o Menino, para o Egito. Caminhou do Egito, no regresso a Nazaré. Caminhou, de modo discreto, no seguimento de Jesus, ao longo na sua vida pública, como primeira discípula, até permanecer junto d’Ele, de pé, junto à Cruz, no Calvário. Maria caminhou acompanhando a Igreja, nos seus primeiros passos, alguns porventura de desânimo, pelo facto de Jesus já não estar fisicamente presente”. E, disse o nosso Bispo, “Nossa Senhora continua a caminhar connosco”.

Maria canta e põe a cantar

Depois, referindo-se ao segundo registo espiritual mariano, o Bispo evocou a atitude do cântico, do louvor, da gratidão, da oblação. O que melhor conhecemos de Maria é o seu “Magnificat”, o seu hino ou canto de louvor. Maria canta as maravilhas de Deus, as maravilhas da salvação, canta a alegria de se dar e doar aos outros. E insistiu: “Maria canta e põe a cantar. Põe a cantar Isabel, que exulta de alegria, na saudação da Ave-Maria; até João Batista salta de alegria no seio de Isabel, quando esta abraça Maria. Simeão, no Templo, recolhe Jesus dos braços de Maria e irrompe num hino de louvor, por ver a salvação e pode partir em paz. Neste movimento interior de pôr os outros a cantar, Maria dá espaço aos outros, não reclama para si nenhuma espécie de protagonismo, não retira o protagonismo a ninguém”.

Partindo desta ideia, Dom Manuel Linda deixou o apelo aos jovens: “percorrei o caminho da vossa existência, caminhando e cantando. Caminhai na companhia de Maria, levando Jesus convosco.  Mas caminhai cantando, sem retirar o protagonismo a ninguém, como o fez Maria”.

Jovens mestres para os adultos na arte de rezar

A Vigília prolongou-se depois com a adoração do Santíssimo, solenemente exposto, na parte final deste belíssimo momento de oração, em que os jovens mostraram serem capazes de rezar, também graças ao contributo das novas linguagens e expressões, das artes do espetáculo, que não são apenas meios de diversão, mas podem também ser ferramentas para a oração, para o encontro com Cristo.

Nestas artes, os jovens são “mestres” para os adultos. O Sínodo sobre os Jovens, a fé e o discernimento vocacional, reconheceu e considerou “a importância que os jovens dão à expressão artística em todas as suas formas: são muitos os jovens que usam, neste campo, os talentos recebidos, promovendo a beleza, a verdade e a bondade, crescendo em humanidade e na relação com Deus. Para muitos a expressão artística é também uma autêntica vocação profissional. Não podemos esquecer que durante séculos a «via da beleza» foi considerada uma das modalidades privilegiadas de expressão da fé e de evangelização. Bastante peculiar é a importância da música, que representa um verdadeiro ambiente no qual os jovens estão constantemente imersos, bem como uma cultura e uma linguagem capazes de suscitar emoções e de plasmar a identidade. A linguagem musical representa também um recurso pastoral que interpela de modo particular a liturgia e a sua renovação” (Documento Final, nº 48). E aqui tivemos um belíssimo exemplo de um caminho, a via da beleza, que vale a pena percorrer, quando se fala na nova evangelização, nova no ardor, nos métodos e nas expressões, como aqui se viu, ouviu e sentiu.

(AG)