Universidade Católica presta homenagem a Walter Osswald nos seus 90 anos

Walter Osswald recebendo em 2016 o Prémio “Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes”, das mãos de D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto. Foto: Agência Ecclesia

Homenagem terá lugar no Centro Regional do Porto da Católica no dia 20 de setembro pelas 19 horas no Auditório Carvalho Guerra. Há dois anos a Voz Portucalense, na edição de 8 de junho de 2016 dava em primeira página a notícia da atribuição e entrega do Prémio Árvore da vida – Padre Manuel Antunes, prémio criado e titulado pela Conferência Episcopal Portuguesa e pela Rádio Renascença, ao Professor Walter Osswald.

Por M. Correia Fernandes

A foto então publicada e que hoje reproduzimos mostra-nos o homenageado a receber das mãos de D. Pio Alves, na qualidade de Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicação Social, a brônzea estatueta que traduz esse prémio. (Fique aqui uma palavra de homenagem aos cinquenta anos de sacerdócio de D. Pio Alves, celebrados este domingo 9 de setembro na Sé do Porto, no dia da sua dedicação).

Há dias o Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, do seu Centro Regional do Porto, anunciava uma homenagem ao mesmo professor por ocasião dos seus noventa anos, a cumprir em 20 de setembro, com uma sessão no auditório Francisco Carvalho Guerra do pólo da Foz do mesmo Centro. Tem nome alemão, mas um retinto coração português e portuense: Walter Friedrich Alfred Osswald é natural do Porto, onde nasceu em 20 de setembro de 1928. Nesta cidade e na sua Faculdade de Medicina se licenciou e se doutorou em 1958 e se tornou professor catedrático em 1972. As suas áreas de estudo e investigação passam pelo sistema cardiovascular, pelos ensaios clínicos e sobretudo pela Bioética (ética médica e ética da experimentação).

É nesta área que criou e foi o primeiro Diretor do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e foi Presidente do Gabinete de Investigação em Bioética da Universidade Católica. Foi Professor visitante em várias Universidades e recebeu doutoramento “honoris causa” pela Universidade de Coimbra e mereceu a condecoração nacional com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago de Espada. É autor de numerosos livros e artigos no âmbito das matérias das suas especialidades, que também passam por temas de caráter filosófico e humanista. Lembremos “Bioética simples” (com Maria do Céu Patrão Neves) (2.ª ed. 2014); “Da Vida à Morte – Horizontes da Bioética” (2014), apresentando as grandes questões resultantes dos notáveis progressos modernos da técnica e da ciência, mormente no domínio da biomedicina, que vão suscitando a uma visão ética e humanista da pessoa; “Sobre a morte e o morrer” (2013), antecipando um debate mais recente, abordando temas como os cuidados paliativos, a dor, perda e sofrimento, o testamento vital, o suicídio assistido e a eutanásia, a espiritualidade, a fé e as noções da “arte de morrer” e da boa morte.

Mais recentemente publicou “Morrer a pedido – o que pensar da eutanásia” (2016), abordando o tema complexo da eutanásia, uma questão de enorme importância e de debate atual, que exige reflexão e análise, propondo caminhos de reflexão e aproximação para o encontro de uma solução digna e respeitadora da vida e da pessoa. Reveladora da amplidão dos seus horizontes culturalmente alargados, perfila-se a obra “Mosteiros Cistercienses em Portugal – Pequeno roteiro” (2012), procurando divulgar a valorizar a influência que para a cultura e para as nossas raízes históricas têm os mosteiros da ordem de Cister, construídos ao longo dos séculos, de norte a sul do país, de Viana do Castelo a Faro, que são a expressão de religiosidade e saber, com informações que permitem o seu usufruto pleno: história, características, localização e enquadramento, conservação, valor artístico, possibilidades de visita e de estadia.

A obra nasce certamente do facto de o autor escrever em S. Cristóvão de Lafões, espaço que recuperou constitui atualmente propriedade sua, tendo sido recuperados muitos dos seus espaços e promovida também a sua valorização cultural através da realização de colóquios históricos que procuram reavivar os valores legados pelo espírito e ação da Ordem de Cister. Ali se encontram testemunhos do trajeto desta dinâmica espiritual e cultura em espaços conhecidos (como Alcobaça, Tarouca, Lorvão, ou Odivelas) e outros menos conhecidos, como Cástris (Évora) ou Cós (Leiria) ou Almoster.

Seja-nos permitida uma referência especial ao volume “Da Vida à Morte – Horizontes da Bioética”, que o autor teve a amabilidade de oferecer ao autor destas linhas. Nele se assinala que a Bioética se apresenta como “uma última possibilidade de construir uma ética cívica, universal, garante da dignidade e dos direitos da pessoa humana”, bem como advertência para a sua instrumentalização por forças que lhe são estranhas”. Este é um ponto fulcral: cada vez mais estes temas fraturantes são utilizados como formas ou fórmulas de intervenção política, ao sabor de projetos que pretendem sustentar o poder e o domínio à custa do equilíbrio da pessoa e da teia ampla das relações humanas equilibradas e justas.

São muito largos os horizontes abordados neste estudo: o diálogo entre a ética e a medicina, um dos campos mais sensíveis para uma atividade onde o respeito pela pessoa é particularmente sensível; os desafios à vulnerabilidade da investigação (que na sua universalidade não pode ser despida dos valores éticos), o conflito potencial entre as possibilidades e a conveniência humana dos seus usos, dados que se manifestam em muito sectores da ciência e particularmente da biologia e da medicina.

O livro contém ainda uma significativa homenagem a notáveis figuras da Igreja portuguesa e do nosso mundo cultural e científico: o Padre Américo (o seu enorme e sorridente vulto), Luís Archer (prodigioso contributo no panorama intelectual e espiritual do nosso tempo), Joaquim Pinto Machado (profissional competente e dedicado, cidadão livre e responsável), Jorge Biscaia (figura da Bioética e da Pediatria, que se revela na “poética ternura”), José Garrett (um homem de ciência, de família e de fé) e Daniel Serrão (mestre pródigo e incansável), além dos mestres do autor Malafaya (Alberto d’Athaide Malafaya Baptista) e Peter Holtz (sempre desafiante e original).

Significativo é que o livro termine com três páginas de um “Breve elogio do silêncio”, citando Carlyle: “O silêncio é profundo como a eternidade, a fala é baixa como o tempo”. Um apelo do autor ao sentido da meditação, caminho de sabedoria.