A Europa e o populismo

Em termos políticos, não falta quem veja o populismo como uma doença que se vem espalhando pela Europa e que corre o risco de se transformar numa verdadeira epidemia.

Por António José da Silva

O que aconteceu na Itália é o caso mais recente do avanço desta doença e aquele que mereceu, nos últimos tempos, um interesse mais visível da opinião pública internacional. Sobretudo porque teve como cenário um dos estados fundadores da CEE e porque a sua economia ocupa o quarto lugar entre as mais ricas da União Europeia.

O populismo não constitui um fenómeno exclusivo da vida política, mas esta é a área em que ele se manifesta com mais frequência e com maior intensidade, embora se deva dizer que não estamos perante um fenómeno exclusivamente ou predominantemente europeu: a América Latina, por exemplo, foi e continua a ser o terreno mais propício ao seu florescimento.

Não se pode ler a história de muitos países desta área do mundo, sem nos confrontarmos repetidamente, com o papel decisivo que neles exerceram fi guras incontornáveis do populismo político, seja este de esquerda ou de direita.
Com alguma surpresa, também os norte-americanos acabaram por não resistir à sedução do populismo, na sua última escolha presidencial.

Donald Trump é, na verdade, um dos mais convictos praticantes deste tipo de governação que se fundamenta na escolha e na implementação de medidas simplistas e de fácil aceitação para os seus presumíveis eleitores, mesmo que tais medidas possam ser injustas e provoquem crises mais ou menos graves dentro e fora do seu país. O que está a acontecer nas relações entre os Estados Unidos e os seus aliados chega para percebermos até onde pode levar a política populista do presidente americano.

Mas ainda a propósito da Itália, cujo presidente da República acabou por aceitar um governo suportado por dois partidos claramente populistas, pode dizer-se que a Europa parece estar a ser atingida por esta doença, ainda com mais intensidade do que os Estados Unidos.

Coincidindo com a opção dos italianos, os eleitores da Eslovénia escolheram, há semanas, para chefe do seu novo governo um líder que defende uma política extremamente rigorosa, para não dizer xenófoba, relativamente à emigração.

E este é um tema cuja abordagem constitui um verdadeiro ponto de referência, quando se fala de populismo. Os eslovenos vieram juntar-se assim a italianos, austríacos, húngaros e polacos, para não falar de outros cidadãos europeus, numa onda de populismo que não se sabe onde pode chegar.