Igualdade ao longo da vida

Por Lino Maia

Num estudo feito pela Fundação Manuel dos Santos sobre as desigualdades de género e agora publicado,  destacam-se alguns aspetos mais marcantes.

Em primeiro lugar, à entrada do mercado de trabalho, na fase da juventude, as desigualdades de género fazem-se desde logo sentir: ser mulher é uma desvantagem. Normalmente, mesmo sendo mais escolarizadas, as mulheres obtêm salários mais baixos, têm relações contratuais mais precárias, têm  uma probabilidade maior de ficar no desemprego e ocupam mais tempo nas tarefas domésticas e a cuidar da família. Trata-se de uma tendência transversal a todos os países da Europa, que atinge as diferentes classes sociais.

Em segundo lugar, ficou patente o grande esforço que homens e mulheres fazem na chamada rush hour of life (“horas de trabalho”), em Portugal como em toda a Europa, dedicando um volume muito expressivo de horas ao trabalho pago. E embora as mulheres ocupem ligeiramente menos horas do que os homens com o trabalho remunerado, a diferença relativamente ao trabalho não pago é-lhes muito desfavorável. Como outros estudos já tinham demonstrado, a desigualdade salarial aprofunda-se entre os 30 e os 49 anos, tal como a sobrecarga das mulheres no que toca à gestão do quotidiano.

É interessante perceber que efeitos tem esta sobreocupação das mulheres com o trabalho e com a família.

Em terceiro lugar, o estudo revelou que, na idade tardia da vida ativa, as mulheres diminuem a sua participação no mercado de trabalho, em toda a Europa, tendendo a ocupar-se com tarefas de apoio à família de forma mais sistemática. Embora a taxa de emprego das mulheres, entre os 50 e os 65 anos, varie de acordo com as profissões ou com a classe social, em países que apresentam percentagens significativas de mulheres com poucas qualificações nesta idade, como Portugal, é plausível que a saída do mercado de trabalho implique carreiras contributivas mais curtas e maior risco de pobreza em idades avançadas.

Em quarto lugar, é inquietante verificar a situação de precariedade vivida por muitos jovens, homens e mulheres, em particular em países como Portugal, mas também na Europa do sul e de leste. O facto de uma significativa percentagem de jovens entre os 20 e os 24 anos estar a viver em casa dos pais – eles mais do que elas – pode estar relacionado com os baixos salários auferidos pelos jovens nesses países e/ou com o facto de terem trabalhos mais precários, que dificultam a sua autonomização. Isto é, mesmo quando trabalham, estes jovens não têm rendimentos suficientes ou estabilidade profissional para ter casa própria ou arrendada.

Em quinto lugar, outros efeitos de género fazem-se sentir tanto relativamente aos homens como às mulheres. Ao analisar as causas de morte, a violência e o crime, esses efeitos tornam-se muito evidentes nos homens. A necessidade de demonstração da masculinidade, associada a uma ideia de controlo ou domínio, conduz muitas vezes os homens, e em particular os jovens, a comportamentos de risco com efeitos extremamente negativos. Tal é evidente quando se conclui, por exemplo, que na UE a 28 países 60% dos homens jovens morrem de causas externas às doenças (acidentes, acidentes rodoviários, afogamentos, agressão, envenenamento, quedas e suicídio), o que acontece apenas com 40% das mulheres jovens.

Em último lugar, ao comparar Portugal com os diferentes países da UE a 27, verificou-se que Portugal não se distancia muito da média europeia, o que significa que muitas das dificuldades sentidas pelos portugueses são partilhadas por um conjunto alargado de povos europeus, dando-nos uma imagem diferente daquela que se obtinha quando as comparações eram realizadas com a UE a 19 ou a 15 países.

Não deixa de ser oportuno recordar o primeiro princípio da doutrina social da Igreja: a dignidade da pessoa humana, como criatura à imagem de Deus e a igual dignidade de todas as pessoas.